No início de 2007, circulavam no Brasil cerca de 5 milhões motocicletas. No fim do ano passado, a frota ultrapassava 9 milhões quase o dobro. Havia, à época, uma motocicleta para cada 18,7 habitantes. Mantido tal ritmo de crescimento, em quatro anos as motos superariam os carros em vendas. E a frota potencial poderia chegar a mais de 18 milhões, o que resultaria em 10 habitantes para cada motocicleta.
Já a taxa de mortalidade das vítimas de acidentes com moto registrada nas capitais brasileiras mais que quintuplicou de 1996 a 2005. Pesquisa da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), em 2005, indicava que atingia a 2,3 pessoas para cada grupo de mil habitantes um salto de 475% durante o período.
Pano de fundo: o trânsito tem de ser encarado como um problema de saúde pública. As mortes em tais circunstâncias fazem com que a expectativa de vida não suba da forma esperada. As vítimas congestionam as filas de hospitais e os gastos com o tratamento têm impacto direto nas contas do Sistema Único de Saúde (SUS).
Paralelamente, a previsão do Ministério do Meio Ambiente é de que os motores de motos continuarão poluindo muito mais que os de carros. Com o inevitável crescimento da frota, em dez anos o contingente de motos baterá o de carros na emissão das principais substâncias poluentes.
Uma projeção feita por uma consultoria especializada em tecnologias não-poluentes apontou que, a partir de 2018, motos devem superar os automóveis na liberação de material particulado (semelhante à fumaça do cigarro), que contribui para a inflamação pulmonar, bronquite e doenças de coração.
No caso do monóxido de carbono (CO), que agrava alergias, e dos hidrocarbonetos (HC), que têm efeito cancerígeno (aldeídos) e agravam o efeito estufa (metano), atualmente as motos já superam os carros.
Registre-se que os padrões antipoluentes para os automóveis já sofreram duas reduções desde 1997. No caso das motos, porém, não há nova etapa prevista após 2009. E, mais grave: as mudanças até agora nada resolveram.
Um novo dado nesse cenário é a isenção da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para fabricantes de motocicletas, decretada recentemente, no pacote anticrise. Se ajuda de um lado, abrindo postos de trabalho, prejudica de outro, pois falta um compromisso maior desse setor industrial com a produção de veículos antipoluentes.
Em janeiro, a produção do setor no polo de Manaus foi de 85 mil motocicletas. Caiu no mês seguinte, por conta dos reflexos da crise, mas não foi um tremendo baque: baixou para 81.494 unidades. No ano passado, os fabricantes de motos lançaram no mercado 2.388 milhões de veículos. E continuam confiantes, já que, por vários fatores, como a falta de espaço no trânsito das grandes cidades, a demanda não cessa. O problema são os efeitos colaterais.
Como contê-los a tempo? Ou, haverá tempo?