A diminuição do preço de um bem, um serviço ou de um ativo qualquer parece, a princípio, ser sempre positivo para a economia. Essa impressão vale, também, para a taxa de juros e para a taxa de câmbio. De fato, a redução nesses preços decorre, em geral, da boa situação da economia, pois, quando as coisas vão mal, a tendência é de que os preços subam, inclusive a taxa de juros e a taxa de câmbio. Entretanto, essa questão é bem mais complexa e, ainda que a queda no preço do dólar resulte de variáveis positivas da economia brasileira, as consequências podem ser extremamente negativas.
Se dólar baixo é bom para quem faz importações, o inverso ocorre para quem faz exportações. Se o preço da moeda estrangeira cair a ponto de gerar prejuízos para as empresas exportadoras, a tendência é de redução da produção no setor, e muitas empresas podem chegar ao ponto de encerrar suas atividades. Daí em diante, a sequência é conhecida: menos produto, mais desemprego, menos consumo e menos tributos.
Em julho de 1994, o Plano Real foi implantado com o preço do dólar cotado a um real. De lá para cá, a elevação dos preços internos foi, pelo menos, de 250%. Ou seja, um produto que era vendido por R$ 100 em 1994, hoje é vendido no mercado interno por, no mínimo, R$ 350. Essa inflação de 250% (que pode ser maior ou menor conforme o índice que se usa para calculá-la) refletiu-se, também, nos preços dos insumos do processo produtivo (matérias-primas, energia, combustíveis, salários e despesas de produção em geral). Como em muitos casos o exportador continua vendendo para o resto do mundo aos mesmos preços de 1994, em dólar, a aplicação direta da inflação interna dos últimos 15 anos sobre o dólar teria que colocar a taxa de câmbio em R$ 3,50.
Embora as contas não sejam tão simples e diretas, pois o setor exportador brasileiro melhorou seus processos produtivos, modernizou máquinas e equipamentos, reduziu custos e promoveu ganhos de produtividade, de forma a obter lucros mesmo exportando a uma taxa de câmbio em queda, o fato é que há limites para o quanto as empresas que exportam conseguem suportar de redução no preço da moeda estrangeira. Quando, antes da crise, o preço do dólar ficou abaixo de R$ 1,70, mesmos os exportadores mais eficientes começaram a amargar prejuízos. O dólar voltou a subir, chegou a atingir R$ 2,40, melhorando assim a situação dos exportadores, mas atualmente, em função da boa situação comparativa do Brasil, a taxa de câmbio voltou a cair abaixo dos R$ 2.
O dólar barato ameaça tornar inviável a sobrevivência de muitas empresas exportadoras, trazendo para o Brasil uma situação que é conhecida como a "doença holandesa". Esse apelido foi atribuído ao mal que acometeu a Holanda na década 1970, onde o setor industrial sofreu grande baque, depois da descoberta de gás natural, ao ver a moeda nacional valorizar-se demais frente à moeda estrangeira e tornar os demais setores pouco competitivos no mercado externo. O Brasil já deixou para trás o tempo em que a taxa de câmbio era decidida pelo Banco Central e tabelada diariamente. Esse tempo não deve voltar, pois a economia brasileira amadureceu muito. Entretanto, o país não escapará de enfrentar o desafio de impedir que os bons fundamentos internos acabem por criar um imenso problema no setor externo da economia nacional.
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