Cerca de 19 milhões de venezuelanos estão aptos a votar nas eleições parlamentares deste domingo. Fosse um país obediente às regras democráticas, a data poderia ser esperada como um momento festivo – mas, ao contrário, trata-se de motivo de preocupação por todos que anseiam pelo bem maior, o de livrar seu pobre povo do regime inaugurado por Hugo Chávez e continuado pelo presidente Nicolás Maduro.
Estão em jogo 167 cadeiras do parlamento venezuelano e, segundo as últimas pesquisas, a oposição estaria apta a conquistar de 60% a 70% delas, impondo a perda da maioria que hoje o governo detém. Mas Maduro já ameaçou: pretende mobilizar simpatizantes e usar força militar para resistir a eventual vitória da oposição na eleição parlamentar.
A eventual vitória da oposição tende a criar um contraponto considerável aos 17 anos de domínio chavista
Em longo discurso pela televisão, teceu disparates como: “Vamos ganhar a disputa eleitoral. Mas caso se desse a hipótese rejeitada, transmutada e sepultada [de uma derrota], eu estou cerebralmente, espiritualmente, politicamente e militarmente para assumi-la. E me lançaria às ruas”. Para completar: “Em todas as hipóteses, somos milhões. Somos um bloco compacto de revolucionários, de revolucionárias, patriotas, chavistas, bolivarianos. Somos uma força histórica.”
Prevenido, Maduro não aceitou que representações internacionais possam auditar, além de determinados limites de observação, as eleições para evitar fraudes, o que pode configurar sua intenção de ganhar o pleito ainda que precise – além de forças militares – se utilizar de meios desonestos para burlar o resultado das urnas. Esta disposição põe o mundo democrático em alerta, a ponto, mesmo, de até a União Europeia (UE) ter manifestado sua preocupação com “a deterioração de uma situação já tensa no período que antecede as eleições legislativas de 6 de dezembro”.
Muito embora não tenha sido o único caso de violência praticado pelas milícias bolivarianas, a UE referia-se principalmente ao episódio do último dia 25, quando um dos líderes da oposição, Luiz Manuel Díaz, foi morto a tiros durante um comício ao lado Lilian Tintori, esposa do principal líder opositor, Leopoldo López, que cumpre em Caracas 14 anos de prisão por, supostamente, ter cometido o crime de liderar manifestações contra o chavismo.
A eventual vitória da oposição tende a criar um contraponto considerável aos 17 anos de domínio chavista. Se se tornar majoritária, a oposição ganharia prerrogativas que hoje lhes são negadas, dentre elas a de abrir investigações sobre escândalos de corrupção e elaborar leis que permitam soltar presos políticos, além de propor emenda constitucional para encurtar o mandato presidencial.
A popularidade de Maduro está abaixo de 25%, fruto do populismo desenfreado e da desorganização econômica decorrente das políticas inauguradas pelo ditador Hugo Chávez e continuadas pelo seu desastrado sucessor. Dados do FMI apontam os sinais da decomposição, só comparáveis àqueles registrados em países em situação de guerra.Estima-se que a queda do PIB em 2015 chegará a 10%. É o pior desempenho em toda a América Latina e um dos piores do mundo – só melhor do que a do Iêmen, da Serra Leoa e da Guiné Equatorial, países que enfrentam guerras e epidemias. Até mesmo a Ucrânia, abalada por uma guerra sangrenta, mantém sua economia em situação mais favorável do que a venezuelana.
O desabastecimento constitui-se em outro retrato da degeneração promovida pelo bolivarianismo, que aniquilou a iniciativa privada. O desemprego é da ordem de 16%, mas a previsão é de que chegue a 18% no ano que vem, níveis não registrados há décadas.
Entretanto, apesar do colapso, Maduro e o chavismo encontram simpatizantes na América Latina, que adotaram “ideologia” semelhante como política de estado. Bolívia, Equador e Argentina, em graus maiores ou menores, sofrem as consequências – com a vantagem para este último, que por fim, com a vitória do liberal Maurício Macri, pôs fim aos 12 anos de dominação de outra vertente bolivariana, o kirschnerismo. E não esqueçamos: o Brasil, especialmente no período do governo Lula, foi um dos sustentáculos do regime de Hugo Chávez e Maduro propiciando à Venezuela o ingresso no Mercosul.