Os espanhóis foram às urnas no domingo passado de forma antecipada para escolher o novo governo de seu país, já que o primeiro-ministro (chamado, na Espanha, de “presidente do governo”) socialista Pedro Sánchez antecipou o pleito em alguns meses após o fracasso de sua legenda, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), nas eleições regionais. O resultado final mostrou que o eleitor retomou sua preferência pelos partidos mais ao centro do espectro político, mas não a ponto de dar a nenhum deles a maioria necessária para governar sem ter de fazer concessões a parceiros com posições ideológicas mais arraigadas.
À esquerda do PSOE está o Sumar, bloco que inclui verdes, comunistas, marxistas, feministas e partidos regionais; à direita do Partido Popular (PP, de centro-direita) está o Vox, legenda com dez anos de existência e que reúne desde conservadores insatisfeitos com o que classificavam de tibieza do PP em relação às pautas de comportamento até alguns saudosos do franquismo. A campanha foi dominada pelo apelo ao “voto útil” tanto da parte de Sánchez quando do líder do PP, Alberto Núñez Feijóo: explicitamente, os dois grandes partidos pediam votos para espantar a possibilidade de o adversário governar aliado a extremistas, mas também deixavam implícita a necessidade de conquistar a maioria absoluta para não ter de fazer alianças potencialmente embaraçosas. A estratégia, no entanto, não foi totalmente bem-sucedida.
Nem mesmo a recuperação econômica que a Espanha está vivendo bastou para garantir a vitória do partido incumbente, mostrando que o eleitor dá importância à chamada “pauta de costumes”
Como já era previsto, a centro-direita saiu vencedora: o PP conquistou 136 cadeiras, um significativo aumento de 47 em comparação com a eleição de 2019. O próprio PSOE também se saiu melhor que quatro anos atrás, mas aumentou sua participação em apenas dois deputados, passando para 122. No entanto, nenhuma das duas forças políticas que vêm se alternando no poder desde 1982 terá a maioria absoluta de 176 cadeiras, o que forçará a montagem de uma coalizão, assim como Sánchez havia feito no fim de 2019, quando buscou o apoio do Unidas Podemos, o predecessor do Sumar.
Sendo o vencedor, Feijóo poderá tentar montar o governo, mas não terá como escapar de negociações com o Vox, que, mesmo sendo o grande derrotado de domingo, perdendo 19 cadeiras e ficando com 33, ainda seria essencial para a montagem de um governo conservador. Não apenas isso: como nem a soma de PP e Vox será suficiente para a maioria absoluta, Feijóo está conversando com ao menos três partidos regionalistas para buscar os sete votos que lhe faltam. Se o PP falhar, o PSOE não está em posição muito mais confortável. Mesmo com os apoios de Sumar e dos esquerdistas catalães e bascos, Sánchez teria 170 votos e ainda precisaria dos separatistas catalães, que certamente farão exigências como a possibilidade de um referendo sobre a independência da Catalunha, plataforma que já levou à prisão o principal nome dos separatistas, Carles Puigdemont.
Impulsionado pelo Unidas Podemos, o governo de Sánchez reforçou o direito ao aborto e reivindicações identitárias, e nem mesmo a recuperação econômica que a Espanha está vivendo bastou para garantir a vitória do partido incumbente, mostrando que o eleitor dá importância à chamada “pauta de costumes”. O PP investiu no assunto para espantar a imagem de indiferença que levara políticos e eleitores a aderir ao Vox no passado, mas não foi capaz de convencer os espanhóis em número suficiente a ponto de prescindir da aliança com a terceira força da política espanhola. A centro-direita ganhou, mas para levar terá de negociar muito na montagem do novo governo.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Deixe sua opinião