O segundo turno das eleições municipais, com a definição das 51 prefeituras ainda em disputa, incluindo 15 capitais, terminou com um gosto ruim para a esquerda, que testemunhou uma nova rodada de demonstrações de preferência do eleitor pela direita ou pela centro-direita. Eleições municipais, bem sabemos, costumam priorizar as capacidades de gestão dos candidatos, com ênfase nos problemas locais, e girar menos em torno das grandes questões ideológicas sobre as quais um prefeito tem pouca ou nenhuma influência. Mesmo assim, não há dúvidas de que o Centrão e legendas mais à direita estão em uma trajetória ascendente que terá seus reflexos em 2026.
O PT até conquistou uma capital, Fortaleza (CE), depois de ter passado em branco em 2020; mesmo assim, a vitória foi apertadíssima, com vantagem de apenas 10 mil votos para o petista Evandro Leitão, e isso apesar de todo o empenho colocado pelo partido na vitória de seu candidato. Das outras três vitórias petistas no segundo turno, duas delas – Camaçari (BA) e Pelotas (RS) – também vieram por margem estreitíssima: 1,84 e 0,72 ponto de vantagem, respectivamente. Em termos de prefeituras conquistadas, o PT já nem é o líder entre as legendas de esquerda, posto que cabe ao PSB (que, ainda assim, foi apenas o sétimo partido em número de prefeitos eleitos). Por fim, mesmo que Guilherme Boulos (PSol) não pertença ao PT, sua derrota em São Paulo também foi um baque para as capacidades de Lula como cabo eleitoral e uma demonstração de que a esquerda de matiz mais identitário parece já ter atingido seu teto em termos de votos.
Os resultados desde outubro de 2024, combinados com o desgaste do governo federal, ajudam a direita a sair na frente para 2026, mas isso não basta
Na outra ponta, o PL terminou o pleito de 2024 como o partido mais votado nas disputas para prefeito, mas amargou derrotas neste segundo turno, como na já citada Fortaleza, mas também em Belo Horizonte, onde Bruno Engler (PL) foi derrotado pelo reeleito Fuad Noman (PSD); e em Goiânia, onde Fred Rodrigues (PL) perdeu para Sandro Mabel (União). Em Curitiba, as simpatias do ex-presidente Jair Bolsonaro se dividiram entre o vencedor, Eduardo Pimentel (PSD), que tem Paulo Martins (PL) como vice, e a candidata Cristina Graeml (PMB). Em São Paulo, a legenda de Bolsonaro também estava coligada com o vencedor, o reeleito Ricardo Nunes (MDB), mas o nome da direita que mais se empenhou na campanha foi o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
É aqui que mesmo resultados negativos para o PL ou para candidatos apoiados por Bolsonaro podem ser vistos por outra ótica. Primeiro, porque o fato de em várias cidades a disputa ter se dado entre a direita e a centro-direita indica que o eleitor decidiu dizer um enfático “não” à esquerda a ponto de tirá-la completamente da disputa já no primeiro turno. Segundo, porque algumas vitórias mostram a força de outros líderes de direita e centro-direita que podem se legitimar para 2026, caso de Tarcísio de Freitas e de outros governadores, como o goiano Ronaldo Caiado (União) e o paranaense Ratinho Jr. (PSD). Por mais que Bolsonaro siga afirmando que é o nome da direita para disputar o Planalto em 2026, as chances de ele reverter sua inelegibilidade são muito pequenas. Será preciso abrir espaço para outros nomes que sejam viáveis na missão de negar ao PT um novo mandato presidencial.
Demonstrar força no pleito municipal é, também, uma forma de atrair aquela fatia do Centrão que é ideologicamente amorfa e vai para onde o vento leva. Os resultados desde outubro de 2024, combinados com o desgaste do governo federal, ajudam a direita a sair na frente para 2026, mas isso não basta: derrotar Lula continua a ser uma tarefa bastante difícil, e que não será realizada sem uma boa estratégia nos próximos dois anos.
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