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A pouco mais de dois meses das eleições municipais, a cabeça do eleitor curitibano parece ocupada com outros assuntos. É fato que são inúmeros e graves os motivos para desviar seu pensamento daquilo que, em tese, lhe seria mais importante – participar da escolha do próximo prefeito e da renovação da Câmara de Vereadores ou, em outras palavras, ajudar a decidir sobre o futuro da cidade em que vive. Corrupção, impeachment, inflação, desemprego, dificuldades econômicas e tantos outros candentes temas do momento brasileiro certamente assumem primazia em relação ao pleito de 2 de outubro próximo.

O Ibope foi às ruas na primeira semana deste mês para medir os índices de intenção de voto dos curitibanos, mas o dado mais relevante e preocupante da pesquisa foi outro: ela constatou que nada menos que 55% dos eleitores disseram ter pouco ou nenhum interesse pela votação. Apenas 21% se manifestaram “muito interessados”. A sondagem levanta a questão: os políticos, não importando os matizes partidários ou ideológicos em que militam, deixaram de ser fonte de esperança em dias melhores?

Ainda há muitas funções essenciais, especialmente para os mais pobres, que estão a cargo das prefeituras

Os sucessivos escândalos consolidaram uma visão segundo a qual gestores públicos ou postulantes a mandatos eletivos – de vereador a presidente da República, passando por senadores e deputados – padecem de virtudes essenciais clara e consensualmente identificadas como indispensáveis. Honestidade é o valor primordial, mas é justamente este o mais espancado pelo abundante noticiário que dá conta da corrupção desenfreada em todas as esferas do poder público.

O desinteresse pelas eleições mensurado pela pesquisa, no caso, se confunde com um profundo sentimento de desilusão e desesperança, na medida em que o eleitor, já informado do passado e escolado pelo que presencia diariamente, não vislumbra a eleição como meio eficaz para por fim à inesgotável cornucópia de maldades perpetradas por aqueles que elegeu, ainda que sempre estivesse subjacente apenas a vontade de escolher “os menos piores”.

Mas não é só isso. As eleições municipais de 2016 sofrem de outros efeitos decorrentes da nova legislação. A campanha deste ano será curtíssima, de apenas 35 dias, durante os quais serão reduzidos (comparativamente a anos anteriores) os horários gratuitos de rádio e televisão e com severas limitações quanto às formas tradicionais de propaganda. Ou seja, a campanha propriamente dita não começou e poucos são os nomes cuja candidatura é dada como certa. A ausência do tal “clima de eleição” nas ruas – antigamente, diríamos que “faltam apenas dois meses”, mas a sensação atual é de que “ainda faltam dois meses” – certamente contribui para a indiferença e tem um outro efeito colateral: campanhas mais curtas tendem a favorecer os atuais ocupantes de cargos e aqueles políticos já conhecidos da população; novatos terão menos tempo para se fazer conhecer pelo eleitor, que pode se achar mais uma vez condenado a optar pelos “mesmos”.

É uma pena que tal situação contamine a próxima eleição municipal porque o poder local é aquele que está mais próximo das pessoas. É verdade que nosso pacto federativo invertido esvazia a influência dos municípios, tirando deles muitas competências (e os recursos para tanto) que seriam melhor executadas por quem está mais perto do cidadão. Mas, mesmo assim, ainda há muitas funções essenciais, especialmente para os mais pobres, que estão a cargo das prefeituras: pensemos, por exemplo, na educação infantil e dos primeiros anos do ensino fundamental, e no atendimento básico à saúde. Municípios também têm margem de manobra, por exemplo, para incentivar o empreendedorismo e a inovação, essenciais nessa época de emprego curto.

São muitos os motivos para que haja interesse pelas eleições municipais. Só nos resta esperar que, à medida que outubro se aproxime, a população deixe de lado a indiferença e se engaje na discussão sobre o futuro de sua cidade.

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