Impressionante a desinformação demonstrada por algumas pessoas que, por dever de ofício, deveriam ser mais informadas do que quaisquer outras. O último a revelar que nada sabia foi o deputado do PT paranaense André Vargas, vice-presidente da Câmara Federal, que, após ter viajado em férias com a família a bordo de um jatinho do doleiro Alberto Youssef, em janeiro, disse desconhecer as cabulosas relações de seu benfeitor com o mundo do crime organizado.
Difícil de acreditar: Youssef foi preso há dias pela Operação Lava-Jato, desencadeada pela Polícia Federal, para investigar atividades de uma quadrilha especializada em operações de lavagem de dinheiro, da qual faria parte também um diretor da Petrobras suspeito de participar da compra superfaturada da refinaria de Pasadena. O Brasil inteiro soube dos casos e se familiarizou com os nomes menos o deputado Vargas, aparentemente. E, pelo jeito, o parlamentar também não se interessou pelos aflitos momentos pelos quais passa o amigo que diz conhecer há 20 anos e que é generoso o suficiente para proporcionar-lhe o conforto de um voo particular de quase 4 mil quilômetros, entre o Paraná e a Paraíba. A prisão de Youssef, é verdade, ocorreu meses depois da viagem de Vargas; mas a (má) fama do doleiro já vem desde os anos 90, como mostrou na quarta-feira a Gazeta do Povo, e inclui escândalos de corrupção no Paraná.
O parlamentar paranaense, porém, não se utilizou de um recurso original. O já clássico "eu não sabia" é uma prática comum nas mais altas esferas do PT, inaugurada com pompa e circunstância pelo ex-presidente Lula, que dizia nada saber do que se passava sob suas barbas quando posto diante do escândalo do mensalão. Envolvidos no esquema estavam os homens mais próximos do presidente, como o chefe da Casa Civil, José Dirceu; o então presidente do partido, José Genoino; e tantas outras figuras que o rodeavam com a desenvoltura que a intimidade permite.
Lula também não sabia das proezas de sua secretária particular, Rosemary Noronha, que se valia do cargo de chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo para traficar favores. Poderosa, era parte integrante das comitivas do ex-presidente em viagens internacionais, dividindo os mesmos hotéis. Quando em vilegiaturas privadas, ocupava dependências oficiais luxuosas da embaixada em Roma. Todos sabiam; Lula não.
Da mesma estratégia de fuga da realidade se utilizou também a presidente Dilma Rousseff, ao confessar, dias atrás, saber quase nada do negócio em que a Petrobras acabou pagando US$ 1,2 bilhão por uma refinaria avaliada em US$ 45 milhões. Na ocasião, ela presidia o Conselho de Administração da estatal mas bastou-lhe um relatório de três folhas, "técnica e juridicamente falho", para dar voto favorável à estranha compra.
Inúmeros outros exemplos de "eu não sabia" poderiam ser enfileirados para contar a história do petismo. Repetida e entoada qual um cansativo mantra, a expressão é mais reveladora do que se pensa. Talvez não revele que seus autores tenham tido, de fato, participação mais ativa nos vergonhosos acontecimentos, mas sem dúvida é sintomática de um alheamento que beira a irresponsabilidade e, por isso, incompatível com as funções públicas que seus autores exercem.
É evidente ser impossível, impraticável mesmo, que os ocupantes das mais altas instâncias consigam tomar conhecimento de tudo o que ocorre à sua volta, nem são dotados dos aparatos de cognição do "Big Brother" de que nos fala George Orwell a ponto de passar seu tempo fiscalizando o que fazem seus delegados. Entretanto, duas atitudes indelegáveis se espera deles: uma, que não tolerem os desvios de comportamento dos subordinados e lhes apliquem os corretivos devidos; outra, que assumam as responsabilidades que a representação popular lhes impõe.
Tudo, menos o "eu não sabia", principalmente sobre fatos que todos sabem.
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