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Editorial 1

Entre apreensão e otimismo

Em discurso público, perante o Presidente Nicolas Sarkozy, da França, o Presidente Lula disse ao que, se houvesse um concurso de otimismo, ele, Lula, estaria bem colocado. Acrescentou que muitos o criticam por sua cruzada otimista e ficam cobrando que ele diga que tudo está horrível e que tudo vai mal; mas ele afirma que está certo de que o Brasil vai se sair bem nessa crise. Exageros à parte, Lula não está errado. A crise financeira mundial tem o seu foco principal nos Estados Unidos, onde houve um acúmulo de insanidades econômicas: o déficit fiscal crônico, pelo qual o governo vem sistematicamente gastando mais do que arrecada; o déficit comercial, pelo qual os Estados Unidos importam mais do que exportam; o estouro da bolha imobiliária, em razão dos empréstimos malfeitos; a quebra de instituições financeiras, por causa da inadimplência em grande escala dos devedores; o sumiço do crédito bancário; a fraude de 50 bilhões de dólares do megainvestidor Madoff; e a crise das megamontadoras de automóveis... a lista de equívocos e problemas é imensa.

Com essa lista quase catastrófica, os americanos espalharam desgraças econômicas por todo o mundo, com maior gravidade sobre a Europa em função da integração econômica e financeira da zona do Euro com a economia norte-americana. Todos vão pagar pela crise, inclusive o Brasil. Todavia, uma análise contextualizada mostra que o Brasil é um dos países com melhores condições para enfrentar a crise e pode ser que, por aqui, os efeitos de uma eventual recessão mundial sejam sensivelmente menores do que a média mundial. Portanto, em face das circunstâncias, o presidente Lula tem razão. Os fundamentos macroeconômicos, a solidez do sistema bancário e a boa situação de reservas internacionais fazem do Brasil um país surpreendentemente forte no atual cenário eivado de pessimismo.

O quadro é de muitas incertezas e grandes apreensões e não há como algum país passar incólume a uma crise dessa magnitude. Mas a situação do Brasil é sólida para enfrentar os tempos difíceis que virão em 2009. Não há dúvida de que os pessimistas dispõem de uma lista de bons argumentos para justificar previsões negativas, pois os problemas econômicos e sociais do Brasil aí estão e vão continuar por muito tempo. A pobreza, a má distribuição da renda, os baixos níveis educacionais e o lento crescimento econômico são problemas crônicos que o governo e a sociedade têm diante de si. Vista dessa forma, a situação brasileira permite afirmar que Lula está sendo ingênuo ao vangloriar-se do seu otimismo. Entretanto, não é disso que se trata. Na verdade, trata-se de ver os aspectos positivos da economia brasileira em um momento de crise aguda em outras partes do planeta, o que é surpreendente já que em crises anteriores o Brasil sempre se achava fragilizado e muito vulnerável.

Mesmo assim, pilotar o barco e mantê-lo forte em zona de turbulência é arte que exige competência e senso de prioridade, e esse é o grande desafio do governo brasileiro. Um dos principais desafios em 2009 é que o país precisa acelerar os investimentos públicos e privados, para recuperar o atraso existente na infraestrutura, tarefa para a qual este jornal vem chamando a atenção com certa insistência. Dá para ser otimista sim, mas sem perder o senso de realidade.

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