No período de pós-carnaval até a data das convenções partidárias, em junho, ocorre um processo intenso de negociação política para a escolha dos candidatos e das alianças que disputarão as eleições deste ano, seja para o governo do estado, ou Presidência da República. Dificilmente essas discussões passam por debater programas de governo que unam dois, ou mais partidos. O que vale é convencer os demais qual é a aliança mais viável para a disputa eleitoral.
Os programas de governo ficam para serem discutidos nos três meses de campanha oficial. Pouco tempo para serem consolidados, de forma responsável, projetos para o estado e para o país. É nesse contexto de pós-carnaval que ocorre na próxima semana a reunião em que o PSDB do Paraná deve decidir se o candidato do partido será o prefeito Beto Richa, ou o senador Alvaro Dias. Também devem ser intensificadas as conversas entre PT e PDT, que ensaiam uma aliança. Dois fatores, ao menos, devem influenciar na escolha dos candidatos: viabilidade eleitoral traduzida em intenções de votos e garantia de um palanque forte para o candidato presidencial. No caso dos tucanos, partido no qual a disputa ocorre internamente, não se sabe se há programas de governo que diferenciem os dois pré-candidatos, nem se isso será relevante para a escolha.
No Brasil atual não há partidos com conteúdo programático bem definido. Os estatutos partidários até dão uma linha de qual é a proposta geral da legenda, mas na prática, a carta maior do partido é esquecida.
Nem parece que ter princípios ideológicos seja necessário para se ganhar eleições. Ao menos é o que dizem os "magos do marketing eleitoral", que consideram mais importante tornar o candidato conhecido e atraente aos olhos da população.
De fato, eles, em grande parte, têm razão. O calendário de campanha eleitoral é muito curto. O convencimento do eleitor precisa ocorrer em pouco tempo. Em um ambiente como o estabelecido pela legislação eleitoral, parece ser irracional perder tempo discutindo programas de governo.
Esse cenário é diferente do que ocorre nos Estados Unidos. Lá, as discussões sobre projetos para o país acontecem no decorrer de todo o ano eleitoral. Nas primárias, é permitido a todos os cidadãos manifestar sua opinião sobre qual deve ser o candidato do partido. A escolha não é restrita aos filiados, ou pior, à cúpula de um partido. É um processo um tanto mais democrático, em que as questões importantes estão abertas a toda a população.
Embora a importação de modelos eleitorais de outros países tenha de ser vista com reservas, lições podem ser aprendidas com os norte-americanos. Desde já, pode-se começar a questionar os pré-candidatos sobre seus projetos para o Paraná e para o Brasil. Não há porque restringir essas questões ao início da campanha oficial, que começa em 6 de julho. Até porque existe o entendimento corrente da Justiça Eleitoral de que campanha antecipada só acontece se o pré-candidato pedir voto de forma explícita.
Nesses tempos de pós-carnaval, é possível ao eleitor observar o processo de escolha dos candidatos pelos partidos da forma mais crua: sem ideologias e sem programas de governo. Mas também pode ser uma oportunidade para estimular o debate, fazer com que os partidos e os pré-candidatos assumam posições sobre como vão lidar com assuntos de interesses de toda a população.
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