Houve flagrante erro de cálculo do Ministério da Fazenda ao anunciar o teor das mudanças que decidiu promover na política cambial visando a valorizar o dólar, incrementar as vendas externas e facilitar a vida dos exportadores. Termômetro sensível que costuma reagir instantaneamente a quaisquer medidas concretas ou até mesmo a boatos, a primeira reação do mercado foi de frustração, representada por nova queda na cotação da moeda norte-americana, que só foi contida graças a uma apressada intervenção do Banco Central.
O governo esperava exatamente o contrário ao permitir que as empresas exportadoras retenham no exterior até 30% do resultado de suas vendas, desobrigando-as, como ocorreu até agora, de internalizar e converter em reais a totalidade de suas receitas. O raciocínio, de aparente lógica, era de que, com a redução da entrada de dólares no mercado interno, aconteceria a valorização da moeda, com conseqüente estímulo às exportações.
Embora correta do ponto de vista, digamos, burocrático, a medida mostrou-se de fato insuficiente, pois sequer arranhou a causa mais evidente da forte e artificial valorização do real. É correta porque, de modo geral, as empresas que exportam também importam ou fazem pagamentos no exterior obrigações que poderão saldar diretamente usando os depósitos que poderão manter em outros países. Elimina-se uma operação nesse trâmite: já não será preciso trazer os dólares para o Brasil para, em seguida, devolver parte deles.
Além de o índice de retenção permitido (30%) ser considerado insuficiente, proporciona às empresas uma economia que não chega a melhorar a competitividade dos produtos que exportam. Mantendo-se caros comparativamente à concorrência, perdem mercado, e as exportações gerais do país tendem a reduzir o ritmo de crescimento tal como, aliás, vem ocorrendo atualmente.
O Paraná é bem um exemplo dos efeitos da distorção cambial sobre as exportações.
As montadoras aqui instaladas exportavam até 40% de sua produção, mas este índice foi drasticamente reduzido em razão da perda de competitividade no mercado internacional dos automóveis fabricados aqui. O mesmo se dá, em parte, com as commodities agrícolas. O efeito é mostrado pelo balanço do comércio exterior paranaense no primeiro semestre: queda de 9% e ameaça de desemprego em massa.
O grande vilão do câmbio distorcido está em outro lugar e, neste, o governo ainda não mexeu com a rapidez, a eficácia e a responsabilidade desejável. Chama-se juro alto. Enquanto o Brasil continuar pagando as mais elevadas taxas do planeta, os investidores estrangeiros continuarão tentados a aplicar aqui os seus dólares. E é este ingresso estéril e maciço (muito maior do que o auferido com exportações) que faz baixar a cotação interna da divisa norte-americana. O remédio mais eficaz, portanto, seria devolver ao dólar o seu verdadeiro valor por meio da redução mais acelerada dos juros.
Uma coisa, no entanto, puxa a outra: o juro é alto não porque a inflação precisa ser controlada, mas em razão da necessidade do governo de rolar a dívida pública (só a interna fechou em R$ 1 trilhão esta semana!), o que o obriga a contratar novos empréstimos garantindo-lhes altos ganhos. O corolário dessa equação é um só: o governo tem de gastar menos e reduzir a dívida. Só assim deixará de manter o país como refém dos juros e, conseqüentemente, menos sujeito às distorções generalizadas que se abatem sobre sua economia, dentre as quais o falso câmbio.
A mudança na política cambial agora promovida equivale a administrar chá de camomila a um paciente vítima de tumor maligno.
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