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Editorial

O que os erros da Califórnia ensinam ao Brasil

Número de sem-teto na Califórnia disparou nos últimos anos. (Foto: Pixabay)

Se há um pedaço do planeta que tem uma história de sucesso e conseguiu crescimento econômico e desenvolvimento social como poucos, esse pedaço é o estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Se fosse um país independente, a Califórnia seria o quinto Produto Interno Bruto (PIB) do mundo; uma das maiores rendas per capita – atualmente acima dos 70 mil dólares/ano. Todo país do mundo gostaria de ser uma espécie de cópia da Califórnia naquilo que aquela região teve de progresso. Mas nos últimos anos o estado passou a sofrer com graves problemas ocasionados pela adoção de políticas públicas enviesadas, como a tolerância com o uso de drogas, descriminalização de furtos e alta de impostos.

Os erros do estado americano são uma dura lição, inclusive para o Brasil, que neste momento discute uma reforma tributária que, se não for bem dosada, pode aumentar os impostos, e assiste ao Supremo Tribunal Federal se preparar para decidir sobre a descriminalização do porte de drogas. O que aconteceu na Califórnia merece ser examinado pelo Brasil para que, por aqui, não se cometam os mesmos erros.

A realidade vivida pela outrora pujante Califórnia mostra o quanto políticas públicas mal pensadas podem se tornar fator de recrudescimento de sofrimento e desgosto.

A Califórnia sempre foi conhecida por seu setor agrícola pujante, que responde por mais de um terço da produção agrícola dos EUA e com elevado índice de produtividade; setor industrial invejável – sobretudo a indústria do petróleo, que progrediu após o rico ciclo do ouro em meados do século 19 –; e o mais reluzente e fantástico parque de inovação e tecnologia: o vale do silício. Adicione a tudo isso um clima ameno e a indústria cinematográfica e cultural mais famosa do mundo e tem-se aí um modelo invejável de crescimento econômico e desenvolvimento social.

Ao mesmo tempo, contrariando essa imagem de sucesso, o estado americano tem sofrido com a fuga de capitais, migração da população, aumento da pobreza, aumento do número de habitantes sem teto e crescimento dos índices de violência e deterioração social, tudo em proporção assustadora. O estado tornou-se um caso a ser estudado, entendido e usado como um exemplo de graves erros de políticas públicas que, se adotadas, levam inevitavelmente a retrocesso, mesmo numa região rica e próspera.

A tolerância com o uso e consumo de drogas transformou a Califórnia num grande consumidor a céu aberto, criando um ambiente de desconforto.

Os estudiosos e analistas políticos, econômicos e sociais afirmam que, após alguns anos de funcionamento de certas políticas públicas, elas se tornaram a causa essencial dos efeitos negativos sobre o estado. A Califórnia, apesar de seu notório progresso, já havia sido experimentado um mau momento em 2008, quando estourou a crise financeira mundial, com o elevado preço relativo dos aluguéis, agravado pela crise de inadimplência das hipotecas que atingiu todo o país. Naquele ano de 2008, o aluguel residencial médio na Califórnia chegava a ser 50% maior que em vários estados do país e o estado experimentou fuga de famílias, muitas delas abandonando residências adquiridas nos financiamentos fartos e desregulados.

Outro aspecto que há tempo vem exercendo pressão sobre os moradores da Califórnia é o elevado custo de vida comparado com outros estados, como Novo México e Flórida. Apesar do pujante setor tecnológico e os bons empregos criados na região, esses três fatores combinados – aluguel mais caro, elevado custo de vida e crise das hipotecas residenciais – deram início a um retrocesso na economia e puxou o produto estadual para baixo, sobretudo na década de 2010. Talvez a Califórnia pudesse ter contido a freada na economia regional caso não entrassem em cena políticas públicas que são hoje reconhecidas como responsáveis por piorar substancialmente a situação local.

Entre essas políticas erráticas, três merecem destaque. Um, a Califórnia adotou uma sequência de aumento dos impostos, os quais, combinados com elevado custo de vida e altos preços de aluguéis, levaram a que algo em torno de 300 mil pessoas se mudassem para outros estados em uns poucos anos. Um exemplo é o Imposto de Renda estadual da Califórnia, que é o maior entre os estados norte-americanos, e chega a 14%. Os aumentos de impostos feitos por governos estatizantes do Partido Democrata já causaram a saída de mais de 13 mil empresas, inclusive algumas famosas empresas de tecnologia, que buscaram estados com tributação mais baixa.

Em segundo lugar, embora de difícil mensuração, sabe-se também que certas políticas sociais contribuíram para empurrar famílias para fora do estado, em especial a lei que descriminaliza furtos de valor até 950 dólares. Alguns analistas acreditam que não considerar crime os furtos de valores e objetos até 950 dólares foi uma espécie de golpe mortal na ética social vigente naquele estado e contribuiu para engordar a lista de desencantos com a região. Terceiro, a tolerância com o uso e consumo de drogas transformou a Califórnia num grande consumidor a céu aberto, criando um ambiente de desconforto entre boa parte das famílias locais, e foi mais um empurrão na fuga de famílias para outras regiões do país.

O quadro geral é mais complexo e certamente possui outros componentes importantes, porém, o exemplo da realidade vivida pelo outrora pujante estado da Califórnia mostra o quanto políticas públicas mal pensadas podem se tornar claro fator de recrudescimento de sofrimento e desgosto em grande parte da população. Que os políticos e governantes brasileiros aprendam a lição aprendida pela Califórnia a duras penas e não cometam os mesmos erros por aqui.

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