Com a profusão de escândalos e denúncias que tomou conta do noticiário político nos últimos tempos, a presidente Dilma Rousseff está diante de um perigoso dilema: dar um basta na corrupção desbragada que impera pelos lados de Brasília ou assistir de forma irremediável à degradação ética do seu governo. É de causar espanto a quantidade de casos mal-explicados de desvios de recursos, superfaturamento de obras, licitações viciadas, fraudes e subornos que já pipocaram por vários ministérios nos oito meses em que Dilma está à frente do país. O mais recente deles estourou na última terça-feira, quando a Polícia Federal desmantelou uma quadrilha que provocou prejuízo superior a R$ 4 milhões no Ministério do Turismo, através de fraudes em convênio com uma ONG do Amapá. Na operação, ironicamente denominada de "Voucher", 33 pessoas ligadas diretamente ou indiretamente à pasta do Turismo foram presas, estando entre os detidos o número dois na hierarquia do ministério, Frederico Silva da Costa, e o ex-presidente da Embratur Mário Moysés.
O episódio no Turismo vem se somar às irregularidades ocorridas nos Ministérios dos Transportes, das Cidades, do Desenvolvimento Agrário, das Minas e Energia e da Agricultura. Em todas essas pastas é sintomático o envolvimento de ministros e assessores diretos, via de regra apadrinhados pelos caciques políticos, nas falcatruas tornadas públicas pela imprensa. No caso específico dos Transportes, ministério que virou uma espécie de feudo do Partido da República (PR), a gravidade das denúncias de superfaturamento de obras rodoviárias e ferroviárias acabou precipitando a destituição de toda a cúpula diretiva, desde o ministro Alfredo Nascimento até os seus diretores. Na Agricultura, sob domínio partidário do PMDB, as irregularidades são igualmente sérias, obrigando o ministro Wagner Rossi a dar muitas explicações diante das acusações de que seu ministério virou uma autêntica "central de negócios". Com as evidências de malversação de verbas, cabeças deverão rolar, ainda que Rossi por ora esteja prestigiado no cargo.
Atônito e acuado diante da saraivada de escândalos, o Palácio do Planalto ainda por cima tem de enfrentar a insatisfação dos dirigentes dos partidos aliados, inconformados com o afastamento de protegidos de posições de mando. A reação está se fazendo sentir através de pressões e ameaças que podem tornar difícil daqui para frente a vida do governo na tramitação de matérias de interesse no Congresso. Ceder aos interesses políticos rasteiros da base aliada ou reagir à altura sinalizando que não compactua com os desmandos, doa a quem doer, é a resposta que a presidente Dilma Rousseff precisa dar à sociedade brasileira. Vale recordar que, quando de sua posse, a 1.º de janeiro, Dilma mandou um duro recado àqueles que gostam de misturar os interesses públicos com os privados, advertindo que agiria com rigidez na defesa do bem público, sem condescendência com o erro, o desvio e o malfeito.
É inegável que algumas medidas já foram tomadas em reação à onda de escândalos. A defenestração da cúpula dos Transportes é uma resposta nesse sentido, mas é preciso fazer muito mais. Todos os ministérios igualmente envolvidos em denúncias de negociatas também precisam ser devidamente higienizados de forma a resgatar os valores éticos pelos quais devem se pautar os governantes. A queda no índice de popularidade da presidente medido pelo Ibope pode estar sinalizando uma insatisfação popular com tantas denúncias e escândalos. Como Dilma vai agir daqui para frente pode fazer toda a diferença para o seu futuro político.