Semana após semana, a capacidade do brasileiro de se chocar com os descalabros da política é colocada à prova. Não foi diferente na semana que se encerra agora, com pelo menos três gravíssimas denúncias envolvendo o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha; o ex-presidente Lula; e a campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, em 2014. Em alguns casos, trata-se de escândalos novos; em outros, as novidades apenas vêm acrescentar outros elementos a denúncias que já eram de conhecimento público.

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Vem da Suíça a denúncia que pode abalar o posto do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O Ministério Público daquele país entregou à Procuradoria-Geral da República, na quarta-feira, os autos de uma investigação conduzida no país europeu contra o parlamentar. Um banco, ainda desconhecido, enviou às autoridades suíças um informe segundo o qual Cunha teria não apenas uma, mas quatro contas bancárias em seu nome ou no de parentes, somando cerca de US$ 5 milhões, valor que já foi congelado. De acordo com o mesmo informe, o deputado teria criado uma estrutura para esconder a real propriedade das contas, inclusive com o uso de empresas de fachada em paraísos fiscais, e movimentava muito mais do que havia declarado como salário. O dinheiro seria proveniente de propinas do petrolão, e Cunha está respondendo na Suíça pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. É preciso lembrar que em março deste ano, em depoimento à CPI da Petrobras, o deputado negou ter contas no exterior – se comprovada a informação proveniente da Suíça, Cunha ficaria sujeito a um processo de cassação por quebra de decoro parlamentar.

São tantos os desmandos e os malfeitos que a sociedade corre o risco de acabar anestesiada

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A base aliada já começou a fazer barulho após a divulgação das informações, que atingem diretamente o mais poderoso dos oposicionistas no Congresso, mas também a presidente Dilma Rousseff foi colocada em uma posição ainda mais frágil após a divulgação do conteúdo de uma troca de mensagens entre o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC e preso pela Operação Lava Jato, e um executivo subordinado a ele. Os textos mostram que doações de campanha feitas pela UTC ao comitê da chapa Dilma-Michel Temer seriam provenientes de contratos da empreiteira com a Petrobras. As mensagens ainda envolvem Manoel Araújo, chefe de gabinete de Edinho Silva, ex-ministro das Comunicações e tesoureiro da campanha de 2014. Na delação premiada já homologada pelo STF, Pessoa disse ter contribuído com repasses ilegais a três campanhas petistas: a de 2006, que reelegeu Lula, e as de 2010 e 2014. A conexão entre o petrolão e a reeleição de Dilma está em análise no Tribunal Superior Eleitoral, e poderia resultar até mesmo na cassação da chapa vitoriosa, com a consequente convocação de novas eleições.

E, como os propinodutos aparentemente não têm fim, também eclodiu nesta semana uma denúncia nova, desta vez envolvendo o ex-presidente Lula. Documentos obtidos pelo jornal O Estado de S.Paulo apontam que a Medida Provisória 471, assinada por Lula em 2009 e que ampliava o prazo dos benefícios fiscais para veículos produzidos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, teria sido “comprada” por grupos empresariais responsáveis por montadoras e concessionárias. Dos R$ 36 milhões gastos pelos empresários com escritórios de lobistas, uma parte teria sido direcionada ao suborno de petistas e pessoas do governo. Um repasse de R$ 2,4 milhões teria ido parar na mão de Luís Cláudio Lula da Silva, que assim se tornaria o segundo filho do ex-presidente a se envolver em casos de enriquecimento mal explicado – Fábio Luís, o “Lulinha”, irmão mais velho de Luís Cláudio, virou milionário em 2005 ao vender à Telemar, por R$ 5,2 milhões, uma participação na Gamecorp, empresa fundada em 2004 por ele e dois amigos com capital social de R$ 10 mil.

O volume e a gravidade das denúncias contra o presidente de uma das casas do Legislativo, a presidente da República e seu antecessor são uma demonstração do nível rasteiro da política que vem sendo praticada atualmente no Brasil. São tantos os desmandos e os malfeitos que a sociedade corre o risco de acabar anestesiada, vendo cada novo escândalo como “apenas mais um” a criar um clima generalizado de apatia e desconfiança – tudo de que o país menos precisa em um momento como este.