Tal como se relata no mito da caixa de Pandora, a cada dia emergem ao conhecimento público versões novas de maldades que se praticavam na Assembleia Legislativa do Paraná. Agora, segundo denúncia apresentada à Justiça pelo Ministério Público Estadual na última segunda-feira, sabe-se o quão organizada (e literalmente familiar!) era a prática de desvios e ilícitos relacionados à contratação de "laranjas" e funcionários fantasmas. De acordo com a denúncia, R$ 72 milhões foi o montante de recursos orçamentários que, entre os anos de 2000 e 2010, foram parar ilicitamente em bolsos alheios.
Por causa dessa constatação, o MP requereu o bloqueio de R$ 216 milhões em bens de 11 deputados, ex-diretores e funcionários menos graduados da Assembleia, apontados como responsáveis pelas irregularidades importância que será destinada a cobrir aquele desvio e as multas decorrentes, estas no valor de R$ 144 milhões.
A artimanha supostamente criada pelo ex-diretor-geral Abib Miguel era executada em conjunto por ele e pelos demais participantes do esquema. A missão de cada um era "arregimentar" os respectivos parentes com ou sem o conhecimento desses para incluí-los em um grupo de fantasmas, em nome dos quais se abriam contas bancárias para o depósito dos salários. Era uma espécie de "condomínio de 34 familiares" cujos polpudos dividendos não eram necessariamente distribuídos igualmente entre os nomeados. Tudo, no mínimo, sob as vistas grossas ou condescendentes dos deputados sobre os quais recaía a responsabilidade de zelar em última instância pela correta e honesta administração da Casa.
Os fatos da segunda-feira foram logo suplantados na terça. A caixa de Pandora outra vez se abriu com a revelação da descoberta de outro grupo de 50 ex-servidores fantasmas que, com ou sem o seu conhecimento, participavam de idêntica fraude. Nesse caso, o prejuízo calculado pelo Ministério Público alcançaria R$ 100 milhões o que eleva o montante dos desvios praticados somente sob esta "rubrica" a quase R$ 200 milhões!
O instrumento utilizado para nomear, promover e definir salários era, de modo geral, o de sempre: a publicação dos atos correspondentes em diários secretos, à margem de qualquer controle público. Sim, à margem do controle público, mas com certeza acessível ao conhecimento e a providências de correção por parte dos parlamentares que se sucederam na administração da Assembleia ao longo dos últimos dez anos.
Trata-se de um mal que agora se afigura de difícil reparação quando se leva em conta o que os crimes praticados significaram em privação de benefícios para a sociedade. Um dos poucos consolos que podem restar será o de ver exemplarmente punidos os responsáveis pelos ilícitos. Outro, é o de constatar que, felizmente, os rumos estão sendo corrigidos.