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Durou muito mais do que seria razoável imaginar a permanência do empresário rural e líder cooperativista Roberto Rodrigues como ministro da Agricultura do governo Lula. Era de fato – e assim ele mesmo se sentia – um estranho no ninho, como alguém elevado à posição quase por acaso, sob o influxo de uma estratégia político-eleitoral montada pelo marqueteiro Duda Mendonça destinada a tornar o petismo palatável a setores que lhe eram historicamente arredios.

A presença de Rodrigues no alto escalão foi inicialmente festejada pelos produtores como o mais claro sinal de que a carranca esquerdista do antigo líder sindical do ABC havia se convertido, para valer, no "Lulinha paz e amor" da campanha de 2002. E, em assim sendo, que o Ministério da Agricultura poderia exercer em plenitude seu papel de apoio ao desenvolvimento do agronegócio brasileiro – uma atividade nitidamente capitalista, tradicionalmente combatida pelas forças originais de apoio a Lula.

Desenvolver o agronegócio significaria inverter a roda da história do PT, partido que se mostrou sempre muito mais afeito à agricultura familiar e de subsistência, com estreita vinculação à militância pró-reforma agrária e aos movimentos de combate ao latifúndio, do que ao agronegócio. Na prática, a inversão significaria dar ao setor agropecuário todas as condições de competir no mundo globalizado, dito neoliberal; seria favorecer com recursos abundantes e políticas públicas apropriadas a expansão da agricultura empresarial – evidentemente sem desvalorizar o importante papel do pequeno produtor para o abastecimento interno, para a criação de empregos e geração de renda no campo.

Era esta a missão que o agronegócio esperava ver o ministro Roberto Rodrigues cumprindo. Desde logo, no entanto, verificou-se a inviabilidade política dessa esperança. A desesperança não nasceu só do ato simbólico do Presidente da República colocando sobre a cabeça o boné do MST. Mas, sem dúvida, cresceu com a evidente secundarização do Ministério da Agricultura, vítima permanente de cortes profundos e irresponsáveis de orçamento, contra os quais Rodrigues, sem prestígio, lutou em vão.

Dos cortes orçamentários aos programas de defesa sanitária renasceu, por exemplo, a febre aftosa – doença que já parecia "extinta" da pecuária brasileira –, causando prejuízos para o setor e para a economia nacional superiores a US$ 1 bilhão. Da mesma forma, outros cortes impediram o Ministério de garantir preço mínimo ou de manter abertas as linhas de crédito agrícola em montantes suficientes e a custos suportáveis.

Além das artes de São Pedro, culpado por não administrar corretamente o clima de forma a evitar duas grandes quebras de safra nos últimos três anos, somaram-se às agruras de Roberto Rodrigues as desastrosas políticas cambial e de juros implementadas pelo governo. De um lado, desvalorizaram os produtos de exportação; de outro, tornaram brutal e impagável o endividamento dos produtores rurais. Em nenhum momento, o ministro contou com a sensibilidade ou a boa-vontade da área econômica para evitar esta que é a maior crise já vivida pelo setor agropecuário brasileiro.

Tratado como um estranho dentro do governo, Rodrigues não teve alternativa senão a de pedir demissão do cargo que ocupou por quase quatro anos. A essa altura, depois da longa orfandade a que foi relegado, o agronegócio já nem se importa com a escolha do sucessor. Sabe que não fará diferença.

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