| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Após a redemocratização e a volta dos civis ao poder, sobretudo após a promulgação da Constituição de 1988, virou moda nos meios políticos e intelectuais dizer que o Brasil era diferente e que, por isso, o país deveria adotar soluções próprias para seus problemas econômicos e não imitar medidas adotadas em outros países, mesmo aquelas que deram certo no mundo desenvolvido. Em nome dessa crença, o Brasil executou várias invencionices na economia, inclusive cinco planos econômicos para combater a crônica inflação dos anos 80 e 90.

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No período do governo Sarney, de 1985 a 1990, os economistas do PMDB inventaram políticas esquisitas como se o Brasil fosse de fato diferente e como se a inflação por aqui fosse doença com causas e soluções diversas das verificadas nos demais países capitalistas ocidentais. Em larga medida, não foi só o Brasil que entrou nessa onda estranha. Praticamente todos os países inflacionários da América Latina embarcaram no mesmo discurso e, por isso mesmo, passaram a tentar a cura do mal com remédios heterodoxos que, de resto, nunca funcionaram.

Os exemplos a serem observados existem, mas estão em países como Canadá, Bélgica e Alemanha

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Somente nos anos 90, depois de diversos remédios errados e inócuos – os quais, além de não curarem o mal da inflação, acabaram por produzir efeitos deletérios que pioraram a distribuição de renda e aumentaram a pobreza –, o Brasil achou o caminho do combate eficaz da inflação com o Plano Real, em 1994, após ter conseguido perceber que os desacertos econômicos tinham as mesmas causas conhecidas na literatura econômica mundial e que o país não tinha nada de diferente.

Como o Brasil é o país das ideias estranhas, há agora economistas e políticos da esquerda defendendo amplo programa de gasto público em obras e investimentos sob o argumento de que isso tiraria o país da recessão e provocaria a retomada do crescimento. Quando alertados de que esse tipo de proposta levaria o país a mais déficit fiscal e explosão da dívida pública – pois o aumento de gasto governamental financiado com aumento de impostos tem efeito neutro, já que os maiores gastos do governo corresponderiam a menos gastos das pessoas e empresas em face do aumento tributário –, os defensores dessa ideia justificam dizendo que países como os Estados Unidos e Itália têm dívidas estatais que superam o Produto Interno Bruto (PIB) e mesmo assim estão em melhor situação que o Brasil.

Ou seja, antes diziam que no Brasil tudo é diferente, agora usam exemplos internacionais, que não se aplicam aqui, para defender déficit e aumento da dívida do governo. Não ocorre aos defensores de mais gastos públicos perguntar por quais razões os Estados Unidos, mesmo com uma dívida pública igual ao PIB de um ano, não entram na combinação de crise, recessão e inflação. Talvez esses economistas se esqueçam de que um país cuja moeda é o padrão internacional tem o mundo inteiro detendo sua moeda e financiando sua dívida nacional. O próprio Brasil dispõe de reservas internacionais em dólares que, além de serem um colchão de liquidez para importações, são usadas para comprar títulos do Tesouro norte-americano e, portanto, ajudam a financiar o déficit daquele país.

Somente a China tem mais de US$ 1,2 trilhão aplicado em títulos dos Estados Unidos. É o povo chinês financiando o déficit e a dívida norte-americana. Nada disso se aplica ao Brasil, pois a moeda brasileira não tem circulação mundial; logo, o exterior não comprará títulos da dívida brasileira com reais. Os exemplos a serem observados existem, mas esses estão no Canadá, na Bélgica, na Alemanha, países que não caíram no conto do vigário do déficit púbico e da dívida pública crescente sem limites.

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