A reportagem é a seiva que irriga todos os condutos de um jornal e traz para os seus leitores a realidade mais imediata das vivências humanas. Um jornal sem reportagem é um jornal sem alma. Portanto, bem informar a partir da busca dos fatos no cotidiano que nos cerca, com isenção e responsabilidade, é o compromisso mais sagrado de um veículo de comunicação com seus leitores.
É justamente baseada nesses princípios que a Gazeta do Povo procura dedicar cada vez mais espaço para as reportagens de campo. Reportagens que possam transmitir, no calor, na emoção e nas adversidades do dia a dia dos paranaenses e brasileiros, o que se passa de bom ou de ruim entre nós. A Expedição Paraná, uma série de reportagens que começou a ser publicada nesta segunda-feira, para apontar as principais necessidades de investimentos e ações direcionadas às 11 regiões administrativas do estado, é mais uma iniciativa deste jornal que coloca esses princípios em prática.
A série começou pelo Norte Pioneiro, mostrando, através de um retrato da família de Daniel Gomes Filho, o Ceará, que trabalha no corte da cana, em Bandeirantes, que a mão de obra barata e a renda abaixo da média estadual são as características dessa região. Em números, o Norte Pioneiro, que ocupa 7,86% do território estadual, tem uma população de 556 mil pessoas (5,21% do total), das quais 172 mil estão em situação de pobreza. E o pior: projeções para 2020 mostram que essa população deve diminuir 6,6%, para 520 mil, dentro de uma década.
A segunda reportagem enfoca uma das regiões mais ricas do estado, o Norte, que abriga uma população de 2 milhões de habitantes, mas 360 mil delas encontram-se na faixa de pobreza. Ali, a concentração da riqueza em Londrina e Maringá atrasa o desenvolvimento das cidades menores. Dois exemplos marcantes desse quadro, que levantou a reportagem da Gazeta do Povo: a dona de casa Cleusa Viana Pires e seus cinco filhos, embora vivam em Londrina, moram em condições precárias e não têm perspectiva de futuro; a família de outra dona de casa, Edna Mendonça Lima, de Sabáudia, convive com o dilema de só se reunir nos fins de semana. Porque, para ter emprego, filhos e sobrinhos foram obrigados a morar num grande centro.
Como a ponta do iceberg, esses instantâneos da realidade mostram que o Paraná carece de um plano estratégico de desenvolvimento. Avançamos pelo século 21, o estado cresceu substancialmente, mas os problemas essenciais, como as desigualdades regionais, esvaziamento dos pequenos municípios e a concentração humana nas metrópoles, continuam os mesmos de 30 anos atrás.
O planejamento estratégico do estado da era Requião foi alvo relegado a um segundo plano, o que ajudou a acentuar essas desigualdades. Mas esses contrastes não são culpa de um só governo. A administração anterior, de Jaime Lerner, pecou pelo mesmo mal. As secretarias de Planejamento, nesse período de quatro mandatos, por exemplo, passaram a ser meros acessórios.
Reportagem não é ciência e nem pretende ser. É uma constatação da realidade. Uma visão do singular com lente de aumento de um universo maior. Mas que mostra a cor da terra, emana o aroma do campo, estampa o rosto dos que sofrem, ouve o coração. E essa é a melhor contribuição que um veículo de comunicação pode dar à sociedade. Se, porventura, candidatos, governantes e outras lideranças sérias se atentarem para esse mosaico da vida paranaense, pensando no futuro de cada cidadão, certamente a Gazeta do Povo terá cumprido o seu papel da melhor forma possível.