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Brasil e Estados Unidos, tradicionais par­­ceiros diplomáticos, estão tri­­lhan­do caminhos não apenas diferentes, mas também conflitantes em ques­­tões internacionais. O caso do Irã é o mais novo capítulo de uma novela de desentendimentos sobre essas questões.

Hoje há pelo menos quatro pontos em que os Estados Unidos mostram justa preocupação com o posicionamento da diplomacia brasileira. Na América Latina, uma das discordâncias é a retirada dos embargos à ilha de Fidel Castro, defendida pelo Brasil e rejeitada pelos Estados Unidos enquanto Cuba não mostrar progressos em direitos humanos e democracia. Vale a pena relembrar o caso dos dois boxeadores cubanos que pediram asilo ao Brasil durante os Jogos Pan-Americanos de 2007, mas foram deportados para Cuba na calada da noite. Paira também uma discordância sobre o caso de Honduras, em que os dois países condenaram o golpe militar de junho de 2009, mas os Estados Unidos reconheceram a eleição de Porfírio Lobo. Já o Brasil não apenas deu abrigo ao presidente deposto Manuel Zelaya em sua embaixada, como não validou as eleições realizadas democraticamente. As divergências extrapolam as fronteiras das Américas. O Brasil não concorda em assinar o protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear, enquanto os países nucleares não cumprirem certos compromissos. O quarto ponto de discórdia e que está em maior evidência no momento é aquele que se refere ao acordo firmado entre Brasil, Turquia e Irã para enriquecimento de urânio. Isso ficou óbvio com a declaração da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que revelou na quinta-feira passada as preocupações da Casa Branca com a posição do governo brasileiro em não aceitar as sanções impostas ao governo de Teerã.

A secretária fez duas afirmações que acenderam um sinal de alerta para o Brasil. A primeira foi a de que o caminho pregado pelo governo, para prolongar as negociações em vez de aplicar sanções pela ONU, "deixa o mundo muito mais perigoso". A segunda foi: "Nós discordamos deles (Brasil), e vamos in­­sistir, vamos dizer que os iranianos estão usan­­do os brasileiros".

Mas nem o presidente Lula nem o chanceler turco Recep Tayyp Erdogan parecem ter entendido o recado. Este afirmou que o acordo para enriquecimento de urânio entre os três Estados foi uma vitória diplomática e que os países que não entendem isso ou apresentam uma relação negativa ao tratado são invejosos e possuem armas nucleares. Aquele disse que, se os países do Conselho de Segurança da ONU não tivessem armas nucleares, a possibilidade de fazer acordo seria maior.

A posição do presidente brasileiro vai na contramão de toda a comunidade internacional, que luta para a não proliferação das ar­­mas nucleares. Para além disso, o que apoia o ponto de vista de Hillary é o fato de que o Bra­­sil parece sempre mais disposto a fechar acordos com governos autoritários e pouco afeitos à democracia. É preciso que o presidente Lula e sua equipe diplomática entendam as consequências que tal posicionamen­­to pode trazer para a relação do país com as grandes potências mundiais. Até agora, o presidente tem simplesmente ignorado todos os sinais enviados, como o fato de os Estados Uni­­dos, no relatório sobra a Estratégia de Segu­­rança Nacional do país, terem excluído o Brasil do bloco Bric. O documento se refere ao grupo como China, Rússia e Índia. Os três Es­­tados são chamados de "centros de influência do século 21". O Brasil apenas como "na­­ção cada vez mais influente". Se as falhas di­­plo­­máticas não fossem tantas, talvez o Brasil pudesse estar no grupo e os Estados Unidos não precisassem quebrar a sigla.

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