Há pelo menos três erros graves cometidos no governo Dilma. Se não fosse por sua teimosia, ela os teria reconhecido e mudado as decisões de governo
Um político que consegue eleger-se presidente da República, sobretudo em um país tão grande quanto o Brasil, é um vencedor e, por isso, digno de respeito por seus méritos. O fato de conseguir ser o candidato indicado por seu partido, após vencer as disputas internas, e superar os demais adversários na disputa pelos votos dos eleitores de toda a nação transforma o eleito em uma pessoa autoconfiante, portadora de um poder enorme, capaz de fazer valer sua vontade. No regime presidencialista, o primeiro mandatário é o chefe de Estado e o chefe de governo, e seu mandato tem prazo definido de duração; isso confere a ele poderes excepcionais.
É compreensível que alguém que chega à Presidência da República desenvolva uma espécie de aura de infalibilidade e tenha tendência a defender e justificar seus atos, mesmo aqueles que notoriamente são ruins e perniciosos ao desenvolvimento econômico e social do país. Todavia, não seria pedir demais ao chefe da nação que, pelo menos na intimidade de seu travesseiro, seja capaz de refletir sobre suas políticas e suas medidas, partindo da premissa de que todos, mesmo os geniais e poderosos, podem estar errados.
A presidente Dilma Rousseff não recebe com calma e tranquilidade as críticas às medidas e às ações de seu governo. Pelo menos na aparência e nas manifestações públicas, a presidente não tem sido capaz de dizer que levará as críticas em consideração, que examinará os argumentos dos adversários e dos analistas especializados e, caso se convença da existência de um caminho melhor ou mesmo de eventual erro em alguma medida adotada, ela reconhecerá o erro e fará a correção de rumo.
A disposição de um governante para defender seus atos e até mesmo a necessidade política de insistir em dizer que está certo podem ser compreensíveis para o jogo político e eleitoral. Entretanto, para a solução das questões cruciais da administração e para colocar o país na rota do crescimento, a incapacidade de aceitar críticas, ouvir sugestões e admitir o erro são posturas danosas e lamentáveis. Um governante que, ao lado da altivez e da autoridade, fosse capaz de um exercício de humildade seria certamente visto com simpatia pela população e seria, sobretudo, um melhor governante.
Há pelo menos três erros graves cometidos pelo governo Dilma. Se não fosse por sua teimosia e estilo autoritário, a presidente os teria reconhecido publicamente e mudado as decisões de governo. Todos erram e não há problema algum em assumir o erro, fazer as correções e seguir em frente.
O primeiro erro grave do atual governo é o baixo investimento em infraestrutura física, responsável principal pelo travamento do crescimento do país. Nunca é demais lembrar que, segundo o IBGE, a população brasileira cresceu 10,8 milhões de habitantes em apenas três anos. A infraestrutura, que já não atendia às necessidades da economia no início do mandato da presidente, atualmente está com um grau imenso de defasagem, tanto em termos de quantidade quanto em qualidade tecnológica, e está impedindo o país de crescer. Mas o governo parece não ver que a situação é dramática e muito diferente dos discursos oficiais.
O segundo erro vem do Ministério da Fazenda. Além de um ministro visto como fraco e disparatado pela imprensa internacional e por analistas especializados, as contas públicas e as estatísticas fiscais perderam a credibilidade interna e externa. As manipulações contábeis e o jogo com as informações sepultaram parcela substancial da confiabilidade dos números do governo. O exemplo da Argentina e da Venezuela dois países cujas estatísticas não têm a menor credibilidade internacional deveria ter ensinado ao Brasil que esse é um caminho equivocado e nocivo à nação. Mas mesmo assim o governo resolveu insistir em manipular as informações.
O terceiro erro vem desde o governo Lula. Seja pela falta de recursos orçamentários ou por viés ideológico, o governo não atrai investimentos privados nacionais e estrangeiros nas áreas em que as obras têm de ser feitas por concessões ou por parcerias público-privadas. Na prática, os atos do governo são nitidamente antiempresariais e anticapitalistas, passando a impressão de que a tinta socialista do PT continua por trás dos atos de governo mesmo quando o discurso oficial reconhece que é necessário atrair investidores privados para projetos públicos.
Mas o governo não reconhece nenhum de seus erros. A tática é sempre se irritar e maldizer os críticos, caminho certo para o fracasso.
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