Qual a diferença entre Lula e Alckmin, os candidatos que estão polarizando a disputa pela Presidência? Os brasileiros precisam da resposta para definir consciente e racionalmente seu voto, mas nesses momentos iniciais da campanha e pelo que os candidatos até agora vêm pregando, poucas pistas lhes foram dadas. Salvo idéias pontuais apresentadas com o fim exclusivo de estimular as claques convocadas para comícios e platéias bem montadas, nenhum dos dois deu ainda a conhecer um conjunto sistematizado de propostas para o país que pretendem governar a partir de janeiro.
Foi-se o tempo em que os brasileiros sabiam com clareza os rumos que, pela ação de seus governantes, o país seguia. Percebia, por exemplo, desde a era Vargas até Juscelino Kubitschek ao longo, portanto, de três décadas que o governo direcionava seus esforços para cumprir um amplo projeto de desenvolvimento com contornos lógicos e bem definidos baseado em altos investimentos públicos e privados para acelerar a industrialização, substituir as importações, incentivar a criação de empregos urbanos e expandir as fronteiras agrícolas.
Graças a isso, as taxas de crescimento do PIB mantiveram-se durante décadas acima da média mundial e o país se transformou. Saiu do subdesenvolvimento e emergiu como uma das maiores e mais dinâmicas economias do planeta.
Esta mesma visão prevaleceu até boa parte do período do regime militar, mas esvaiu-se posteriormente com a gradativa perda do senso de planejamento estratégico e com a progressiva desorganização do Estado. O excessivo endividamento público, a irresponsabilidade fiscal, o descontrole inflacionário e os planos heterodoxos lançados de tempos em tempos pelos messias de plantão deixaram o país sem regras, sem rumo.
A estagnação foi inevitável. Colhemos como resultado o desemprego em massa, o empobrecimento da população, a deterioração dos serviços públicos, o baixo nível de investimentos privados, o sucateamento generalizado da infra-estrutura. Perdemos, sobretudo, o "bonde da história": o Brasil não estava preparado para aproveitar os tempos de bonança mundial que surgiram nas últimas duas décadas e acabou ultrapassado por nações que apresentavam estágios de desenvolvimento muito menores, como os Tigres Asiáticos e, mais recentemente, a Índia e a China.
É verdade, o país venceu o cancro inflacionário e reconquistou alguns pressupostos indispensáveis para a retomada. Mas ainda estão muito presentes problemas que conspiram contra a criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento sustentado: não fez as reformas estruturais que deveria, mantém tributos e juros em escala estratosférica, não instituiu marcos regulatórios para dar segurança aos investimentos privados, não reduziu a corrupção a níveis minimamente aceitáveis, não modernizou a Justiça...
São desafios urgentes que exigem o posicionamento dos candidatos. Que requerem deles propostas concretas sobre de que modo pretendem superá-los. E, tendo resolvido tais questões institucionais, fundamentais, que modelo de desenvolvimento e que prioridades se propõem a implementar no exercício de seus mandatos.
Diante de tantas questões para as quais os candidatos não deram respostas convincentes e organizadas, conclui-se ser impossível por enquanto diferenciar Lula de Alckmin e vice-versa. Ainda estão devendo um projeto de país. A esperança, contudo, é de que, a partir da massiva propaganda eleitoral gratuita a ser deflagrada em meados de agosto, o eleitor brasileiro ganhe condições reais de se definir com clareza.
Governistas querem agora regular as bets após ignorar riscos na ânsia de arrecadar
Como surgiram as “novas” preocupações com as bets no Brasil; ouça o podcast
X bloqueado deixa cristãos sem alternativa contra viés woke nas redes
Cobrança de multa por uso do X pode incluir bloqueio de conta bancária e penhora de bens