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O Brasil não tem problema de diagnóstico. A questão maior é a falta de capacidade do governo e da sociedade para enfrentar os dramas e fazer as reformas estruturais necessárias

O Fórum Econômico Mundial terminou no último fim de semana. Apesar de não ter revelado nada que o mundo já não soubesse, os debates foram ricos e as conclusões compõem material útil e importante para o exame do desenvolvimento econômico brasileiro e seus problemas. Em geral, esse fórum prioriza as discussões e as análises em três grandes temas, que são o desenvolvimento econômico, a desigualdade entre as nações e o esgotamento dos recursos naturais.

Nos últimos anos, os chamados Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) eram as estrelas do fórum, por sua capacidade de crescer em um mundo complexo e permeado de crises. A China era o principal foco das atenções, tanto pelo tamanho de sua população como pelas altas taxas de crescimento de seu Produto Interno Bruto (PIB) e, sobretudo, de seu comércio internacional.

No caso do Brasil, o país se tornou atraente para os investidores estrangeiros e passou a ser visto com olhos favoráveis por empresários, governantes, banqueiros e analistas internacionais basicamente em razão do controle da inflação, da melhoria na distribuição de renda e da ampliação do comércio exterior. Pelo fato de ter melhorado suas contas externas e controlado a dívida pública justamente quando grande parte do mundo desenvolvido se enrolava em déficits e crises, o Brasil passou a ser considerado um lugar promissor para os investidores estrangeiros e para os capitais internacionais.

A crença mundial era de que o Brasil iria seguir crescendo e aumentando a renda por habitante, dando a impressão de que, em alguns anos, o país iria ingressar no clube das nações desenvolvidas e importantes no cenário mundial. Porém, ao fechar as contas de 2012 e apresentar um crescimento do PIB de apenas 1% – inferior ao da África do Sul, que foi de 2,3% –, o Brasil desapontou o mundo, e isso ficou claro no Fórum Mundial.

Os analistas estão tentando entender por que o Brasil nunca consegue crescer de forma sustentada por um período superior a uns poucos anos, mesmo quando os números de sua economia são bons. Entre os países da América Latina, o México já superou o Brasil como o queridinho dos mercados, pois cresceu quase quatro vezes mais. Mas a decepção com o país evidenciada no Fórum Mundial não deve ser vista apenas como uma má vontade dos analistas estrangeiros, e sim como uma oportunidade para o exame das causas que levam o Brasil a ter desempenho tão pífio.

Infelizmente, o Congresso Nacional parece anestesiado em relação aos temas importantes da economia e, quando ensaia algum debate nessa área, o faz com superficialidade e pouco conhecimento de causa, beirando o desdém.

Talvez nem seja muito difícil entender as raízes principais da falta de crescimento continuado e sustentado do Brasil. Um dos maus hábitos por aqui é a disposição para muitos remendos e poucas reformas. É consenso entre governo, empresários e políticos que o país precisa de reformas em várias áreas – trabalhista, tributária, de legislação aduaneira, só para citar algumas –, mas por razões quase inexplicáveis o sistema político não se dispõe a enfrentá-las.

Há dois anos, nesse mesmo Fórum Econômico Mundial, foi apresentada uma pesquisa que colocou o Brasil com um dos piores lugares do mundo para se fazer negócios. Entre 139 países, o país ficou em último lugar em relação ao peso da regulação governamental, à extensão e ao peso da tributação; pior que 136 países quanto ao desperdício nas despesas governamentais; e pior que 135 países em relação ao tempo gasto para abrir um negócio.

Nessa mesma pesquisa, a situação do Brasil é considerada péssima em matéria de rigidez do mercado de trabalho, confiança nos políticos, crime organizado, custo da violência para os negócios, qualidade dos portos e problemas aduaneiros. Não é preciso ir muito mais longe para entender que, com uma lista de problemas dessa magnitude, o crescimento sustentado seja quase impossível.

O Brasil não tem problema de diagnóstico. A questão maior é a falta de capacidade do governo e da sociedade para enfrentar os dramas e fazer as reformas estruturais necessárias. Infelizmente, uma nação é resultado das escolhas feitas por sua população e por seus dirigentes. Se a sociedade organizada não assumir o controle de seu futuro e das reformas, tudo indica que dificilmente os políticos irão fazê-lo.

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