| Foto: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo
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A julgar pelos números do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), medido pelo Banco Central e considerado uma “prévia” do PIB, embora com método de cálculo ligeiramente diferente, o país deixou para trás a recessão técnica no terceiro trimestre deste ano. O indicador fechou setembro com alta de 1,29% sobre agosto, e com avanço recorde de 9,47% na comparação com o segundo trimestre. Não foi suficiente para compensar o tombo também recorde registrado entre abril e junho, de -10,18%; e, se considerarmos que março também foi um mês de perdas com o início das medidas mais severas de restrição aos negócios, ainda há um longo caminho a percorrer até o Brasil voltar ao nível de antes do estrago da pandemia de Covid-19.

Ainda que a economia siga avançando no último trimestre – o que é bem provável, seja por ainda haver espaço para recuperar no buraco deixado pela pandemia, seja pelo desempenho natural provocado pelas festas de fim de ano –, o Brasil terá regredido em 2020. Por mais que as previsões venham melhorando gradativamente, o boletim Focus desta segunda feira, que compila as análises do mercado financeiro, ainda traz previsão de queda de 4,66% para o PIB este ano e alta de 3,31% em 2021, mostrando que as consequências da pandemia ainda serão sentidas por muito tempo.

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A percepção de que o governo não está comprometido com o ajuste pode ser tão ou mais mortal para a recuperação da economia quanto uma nova onda de Covid-19

Deixar para trás a recessão técnica (definida por pelo menos dois trimestres seguidos de queda no PIB) é apenas um marco inicial; a recuperação propriamente dita ainda depende de muitos outros fatores. O inverno europeu, com a ressurgência de casos de Covid e novos lockdowns em vários países, é uma prévia do que pode ocorrer no Brasil caso não apareça uma vacina promissora nos próximos meses; uma “segunda onda” poderia colocar a perder todo o trabalho de recuperação iniciado agora, já que boa parte do avanço do IBC-Br se deve justamente ao afrouxamento das restrições, o que permitiu a retomada dos negócios em vários setores da economia.

E, mesmo que o país consiga controlar o coronavírus, restam vários outros desafios, a começar pela recuperação do nível de emprego. O ministro Paulo Guedes, da Economia, já afirmou que o país talvez não consiga manter o ritmo atual de criação de postos de trabalho – foram 131 mil em julho, 294 mil em agosto e 313 mil em setembro, segundo o Caged. E quem não tiver conseguido se recolocar no mercado de trabalho sofrerá uma redução severa na renda quando o governo parar de pagar o auxílio emergencial.

É aqui que entra o outro lado da balança, o do gasto público. A recuperação não tem como continuar se o governo não conseguir colocar suas contas em ordem, mas até o momento o país não tem nem mesmo Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2021, quanto mais um orçamento consolidado. Continuam as pressões por aumento de despesas e até mesmo flexibilização da regra do teto de gastos, e o governo ainda não foi capaz de apresentar uma proposta fiscalmente responsável para bancar o Renda Cidadã. A percepção de que o governo não está comprometido com o ajuste pode ser tão ou mais mortal para a recuperação da economia quanto uma nova onda de Covid-19, já que neste caso se trata de decisões ruins tomadas internamente, não de ocorrências externas e alheias à vontade do governo.

Eis, então, a chave para não colocar a recuperação a perder nos próximos meses: não errar naquilo que depende exclusivamente das vontades palacianas em Brasília, e trabalhar para reduzir ao máximo os estragos que possam ser produzidos por fatores externos – no caso brasileiro, por exemplo, a capacidade de testagem, ainda que ampliada recentemente, continua a ser um grande calcanhar de Aquiles no combate à Covid-19. Em ambos os casos, não há muita margem para hesitação nem demora; do contrário, o país inteiro voltará a sofrer as consequências.

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