O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.| Foto: Valter Campanato / Agência Brasil
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O caos provocado por militantes antipetistas na Praça dos Três Poderes, no último domingo, ainda nem havia sido devidamente contido e a busca por culpados já havia começado. Entre os responsáveis, obviamente, estão os vândalos, que precisam ser devidamente identificados e punidos. Mas, com aquela precipitação típica que investiga, acusa e condena de forma quase simultânea, dedos também foram apontados para os demais acampados em outras cidades brasileiras, caluniosamente chamados de “terroristas”; para o ex-presidente Jair Bolsonaro e políticos aliados, tratados como instigadores da violência; para formadores de opinião contrários ao petismo; e para os responsáveis pela segurança pública do Distrito Federal, acusados de omissão e que já estão sendo punidos – o ex-secretário Anderson Torres tem ordem de prisão decretada e o governador Ibaneis Rocha foi afastado pelo STF, ao arrepio do que diz a Lei Orgânica do DF. Mas há um esquecimento bastante conveniente, e que diz respeito à possível omissão das autoridades federais.

Ainda antes do 8 de janeiro, o ministro da Justiça, Flávio Dino, havia assinado a Portaria 272/2023, autorizando a Força Nacional a garantir a segurança na Praça dos Três Poderes, inclusive anunciando no Twitter, no sábado, dia 7, que “além de todas as forças federais disponíveis em Brasilia, e da atuação constitucional do governo do Distrito Federal, teremos nos próximos dias o auxílio da Força Nacional”. Nos dias seguintes ao caos, reportagens de vários veículos de imprensa começaram a mostrar que o governo federal tinha plena consciência da ameaça de quebra-quebra. A Folha de S.Paulo apurou que a Agência Brasileira de Inteligência havia avisado 48 órgãos do governo federal, além do governo distrital, sobre a intenção dos manifestantes de causar vandalismo nas sedes dos poderes no domingo. E, segundo O Estado de S. Paulo, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ligado diretamente à Presidência da República, dispensou reforço na guarda do Palácio do Planalto menos de 24 horas antes da invasão.

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Se as autoridades do Distrito Federal estão sendo acusadas de conivência deliberada com o vandalismo por serem alinhadas ao bolsonarismo, poderíamos aplicar o mesmo critério e constatar, sem rodeios, que o grande beneficiado com o 8 de janeiro foi o próprio Lula

Dino já alegou que a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal mudou na última hora o seu esquema de segurança para a manifestação; que havia destacado todos os 140 membros da Força Nacional presentes em Brasília (os outros 500 estavam em outros estados); que teria reforçado a presença federal se soubesse antecipadamente que o planejamento tinha sido alterado; e que a esfera federal só atua quando a esfera estadual (ou, no caso, distrital) falha. Isso, no entanto, não responde satisfatoriamente a todas as questões envolvendo a evidente falha de segurança na Praça dos Três Poderes no domingo. Afinal, se a ameaça era grande e iminente como haviam alertado os órgãos de inteligência, todo reforço possível – inclusive federal – no contingente destinado a proteger as sedes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário seria plenamente justificado.

E, analisando friamente toda a situação, se as autoridades do Distrito Federal estão sendo acusadas de conivência deliberada com o vandalismo por serem alinhadas ao bolsonarismo, poderíamos aplicar o mesmo critério e constatar, sem rodeios, que o grande beneficiado com o 8 de janeiro foi o próprio Lula. Sem apoio nenhum, desde o início estava claro que os vândalos não tinham a menor perspectiva de prosperar em suas intenções golpistas; independentemente do estrago material causado, logo seriam subjugados. Nem Lula nem o ministro Alexandre de Moraes se sentiram minimamente intimidados pelo que ocorreu – pelo contrário, só ganharam munição para escalar a repressão contra seus críticos. Lula, o amigo de ditadores, o defensor do garrote sobre o jornalismo, conseguiu posar de vítima e paladino da democracia em escala planetária; a imprensa, que já ensaiava críticas devido ao começo de governo ruim em termos de sinalizações econômicas, passou a se concentrar apenas na repercussão do 8 de janeiro e na ofensiva contra Bolsonaro e seus “terroristas”.

As investigações sobre a possível omissão das autoridades, motivada seja por imprudência, imperícia ou decisão deliberada, não pode se restringir ao Distrito Federal. Deputados federais já se mobilizam para abrir uma CPI que apure a forma como o Ministério da Justiça se preparou diante da possibilidade de atos violentos na Praça dos Três Poderes. No fim, dependendo das informações que surgirem, pode-se até concluir que o governo federal fez o que estava a seu alcance, ou que falhou menos que o governo distrital; o que não se pode é blindar antecipadamente quem também tinha o poder de mobilizar forças de segurança que se mostraram insuficientes para impedir a destruição do último domingo.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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