Alguém pode ser a favor da matança indiscriminada de criminosos como método de combate à criminalidade? Alguém com um mínimo de sensatez seria capaz de apoiar políticas de extermínio para "limpar" da sociedade os delinqüentes? Alguém provido de juízo pode advogar que a polícia use de seu poder repressivo para executar bandidos, torturar suspeitos, atropelando leis e infringindo princípios básicos dos direitos humanos?
A resposta a todas essas perguntas, evidentemente absurdas, deve ser um rotundo, sincero, categórico e peremptório não. Mas elas são aqui formuladas com o único propósito de auxiliar no exame de um desvio crescente que se vem observando ao se avaliar negativamente a atuação da polícia paulista no triste episódio de violência generalizada que conturbou São Paulo e chocou o país na semana passada.
Sob o patrocínio estridente de algumas ONGs, que se pretendem defensoras dos direitos humanos, de setores do Ministério Público e de muitos políticos interessados em tirar proveito eleitoral dos acontecimentos, promove-se a condenação sumária das forças policiais em claro detrimento da atenção prioritária que se deve dar à questão fundamental isto é, a violência do crime organizado e as estratégias para dar-lhe efetivo e rigoroso combate.
De fato, quase todas as atenções estão voltadas agora para se descobrir se houve excessos na repressão policial. O balanço oficial dá conta de que 109 suspeitos foram mortos pela polícia paulista durante os ataques do PCC. Diante de tal morticínio, a preocupação que passou a prevalecer está sendo a de pressionar as autoridades e de se investigar se, entre os mortos, não se encontravam inocentes, vítimas do desvario, da truculência e da vindita policial.
Parece-nos evidente a probabilidade de que, sim, inocentes tenham sido também sacrificados, dadas as proporções cruentas da guerra que se travou em São Paulo entre a bandidagem e as forças policiais da repressão. Lembre-se de que 56 agentes e soldados foram mortos nas primeiras horas da sublevação nos presídios e dos ataques contra delegacias, quartéis, viaturas e módulos policiais. Lembre-se de que grande parte dos ataques vitimou policiais em folga; lembre-se de que muitas casas de policiais foram também atacadas, com ameaças reais e frontais contra suas mulheres e filhos.
Em meio a esse clima, não seria de se esperar, pois, que a racionalidade e a frieza profissionais prevalecessem na atuação policial.
Não se trata e que isto fique bem claro! de defender ou de justificar os excessos cometidos, tão condenáveis, por certo, quanto os covardemente perpetrados pelas facções criminosas. É mais do que necessário que se investigue com rigor, que se julgue e que se puna sem complacência os agentes policiais que ultrapassaram a fronteira da lei e que se igualaram aos facínoras comuns. Não será nunca admissível que sobre eles caia o manto protetor da impunidade. O que se condena, porém, é o desperdício de energia que se quer impor, neste exato momento, às autoridades incumbidas de restabelecer a ordem e a disciplina nos presídios e de desbaratar as gangues criminosas que ainda agem nas ruas sob o comando do PCC.
A hora é de somar todos os esforços contra o inimigo principal o crime organizado , acima de cores partidárias, de proveitos políticos e de preocupações exclusivas com os direitos humanos de criminosos, em detrimento dos direitos humanos que cabem também aos policiais e a todos os cidadãos de bem.