A violência no futebol voltou a fazer vítimas em Curitiba. As primeiras informações davam conta do pior: um corintiano teria sido morto em uma briga com torcedores do Coritiba, na manhã do domingo, dia 18, quando os dois times se enfrentaram no Couto Pereira. Até mesmo as autoridades policiais divulgaram a morte, desmentida pouco depois. Mas o fato de ninguém ter perdido a vida não pode, de forma alguma, nos fazer minimizar o que ocorreu em Curitiba. Que brigas como essas continuem ocorrendo mesmo depois de todas as tragédias envolvendo torcedores nos últimos anos – não apenas em Curitiba ou no Paraná, mas no país inteiro – deveria envergonhar a todos nós, mas especialmente aqueles que lidam mais diretamente com o futebol.
Uma das chaves para compreender a violência no futebol é a mesma que explica a violência urbana brasileira: a impunidade. Se o leitor tem dificuldade para se lembrar de algum protagonista de episódios recentes de barbárie entre torcidas – como a selvageria na partida entre Atlético e Vasco em Joinville (SC), em 2013, ou a briga no dia do Atletiba do último 1.º de maio em que um torcedor do Coritiba foi baleado, ou qualquer outro confronto – que esteja devidamente preso ou condenado por seus atos, é porque realmente são raríssimos os casos em que isso ocorre. Mais provável é que os brigões sigam soltos e frequentando normalmente os estádios. Uma exceção louvável é o caso da quebradeira no Couto Pereira, ocorrida em 2009: em março deste ano, seis réus foram condenados, e quatro deles cumprirão pena em regime fechado.
Nem seria necessário haver leis mais duras. Basta aplicar o que já existe: o Código Penal e o Estatuto do Torcedor
No caso da briga do dia 18, alguns dos suspeitos foram identificados – um deles foi detido ainda dentro do estádio, graças ao trabalho de policiais civis infiltrados na torcida alviverde. Isso, no entanto, de pouco servirá se os participantes da briga não forem todos devidamente identificados (o que está longe de ser missão impossível nesta era de câmeras onipresentes e mídias sociais que dificultam muito o anonimato) e punidos.
E, para isso, nem seria necessário ter leis mais duras. Basta aplicar o que já existe: o Código Penal e o Estatuto do Torcedor, que tem uma punição para os brigões – o artigo 41-B determina que os condenados por “promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restrito aos competidores em eventos esportivos” (inclusive “num raio de 5 mil metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante o trajeto de ida e volta do local da realização do evento”) sejam condenados a multa e reclusão, convertida na exigência de apresentação em local determinado pelo juiz duas horas antes do início de eventos esportivos, sendo liberado duas horas depois do término da partida. Já os artigos 39-A e 39-B punem as torcidas organizadas que se envolvem em confrontos.
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E é justamente na participação das torcidas organizadas que reside outra explicação para a violência no futebol. O que deveria ser um meio de tornar mais bonito o espetáculo nas arquibancadas se tornou um esconderijo conveniente para brigões que fazem em grupo o que pensariam duas vezes antes de fazer sozinhos, em outras situações. Quando uma organizada protege seus membros violentos (e isso na melhor das hipóteses, pois há aquelas que glorificam seus “guerreiros”, sem falar nos casos em que os agressores fazem parte da própria diretoria da torcida), torna-se cúmplice da violência. E, quando dirigentes esportivos continuam a prestigiar torcidas organizadas com participação comprovada em atos de barbárie, dão carta branca para que novos atos de violência ocorram. Isso não significa, no entanto, que a solução seja o fim das torcidas (a experiência paulista mostra que os membros de grupos extintos se reorganizam em novas entidades): mais salutar é trabalhar pontualmente, responsabilizando individualmente os violentos até que as organizadas voltem a ter a participação majoritária daqueles cujo único interesse é apoiar seu time.
Não há outro meio: a vigilância permanente das autoridades e aplicação intransigente da lei para identificar e punir torcedores violentos, e a mudança de mentalidade de dirigentes esportivos para que deixem de prestigiar torcidas organizadas envolvidas em confrontos são a chave para livrar nosso futebol dessa chaga. Torcedores trocando socos, pontapés e tiros em nossas cidades são uma vergonha muito maior que qualquer 7 a 1.
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