Atualmente, fala-se muito sobre a quarta revolução tecnológica, ou revolução 4.0, aquela que pega mais ou menos de 2010 a 2040, como sendo uma das mais profundas e radicais mudanças nos processos produtivos, no mundo do trabalho e, por consequência, nas relações sociais. Segundo especialistas no assunto, essa revolução deverá ter efeito amplo nas relações de emprego, podendo ocasionar o fim de muitas vagas de trabalho em atividades hoje desempenhadas pelo ser humano. Os avanços na nanotecnologia e na inteligência artificial exigirão rearranjos significativos em diversos campos profissionais nos quais a tecnologia passará a competir com o ser humano até em atividades intelectuais.
Com a humanidade na faixa de 7,8 bilhões de habitantes, a demanda por bens e serviços é enorme, e isso faz o sistema econômico se expandir, porém, a essência da mudança radical que está por vir é a de que, por enquanto, as previsões apontam que a produção deverá crescer a taxas muito superiores àquelas do emprego global. Somente esse aspecto já impõe um colossal desafio à humanidade, porém, há um segundo efeito que demandará soluções criativas, complexas e necessárias: o crescimento das cidades, especialmente as grandes, e a urgência em corrigir suas deficiências e disfuncionalidades.
Em 2012, a Organização das Nações Unidas (ONU) produziu um estudo denominado A Era das Cidades, no qual afirma que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) se dará essencialmente nas grandes cidades, de forma que suas deficiências e gargalos devem merecer atenção especial e soluções eficazes. “Serão as grandes cidades, e não os países, que passarão a comandar a criação de riqueza. Os prefeitos terão de fazer frente à Era das Cidades na economia mundial, ou seja, cada problema, deficiência ou gargalo deixa de ser problema somente da cidade para tornar-se um empecilho à economia de todo o país”, diz a ONU. Se esse prognóstico está correto, é nas cidades – travadas e cheias de gargalos – que serão concentrados os dois maiores eventos: o aumento da produção sem o correspondente aumento do emprego, o que tende a elevar o número de desempregados.
Os avanços na nanotecnologia e na inteligência artificial exigirão rearranjos significativos em diversos campos profissionais nos quais a tecnologia passará a competir com o ser humano até em atividades intelectuais
Nesse ponto entra outro problema a ser resolvido pela sociedade, empresas e governos como condição necessária para, ao lado de outras soluções, permitir o crescimento da produção nacional, o aumento da produtividade/hora de trabalho e a melhoria do bem-estar físico e mental dos trabalhadores. No século XIX, a revolução industrial inglesa fez surgir severas críticas de intelectuais da época às imposições desumanas materializadas em jornadas de trabalho de 12 ou 14 horas diárias. A evolução das relações entre trabalho e capital levou ao estabelecimento das jornadas de oito horas diárias, o que foi um ganho para a saúde do trabalhador. Porém, as grandes cidades estão travadas e com baixa mobilidade urbana em função de seus congestionamentos e deficiências. Nelas, há legiões de trabalhadores que, desde a hora em que saem de sua residência até a hora de retorno ao lar, são decorridas as mesmas 12 ou 14 horas diárias. Como atacar um problema dessa natureza?
Se há milhões de trabalhadores que passam oito horas no local de trabalho, mas gastam outras quatro ou seis horas no trânsito para cobrir a distância casa-trabalho e trabalho-casa, o alerta da ONU, naquele relatório A Era das Cidades é de estudo obrigatório. O Brasil tem 5.570 municípios, dos quais 1.218 foram criados após a promulgação da Constituição Federal em 1988 e, ainda que a maioria seja composta por cidades relativamente pequenas, há 155 municípios com mais de 200 mil habitantes que abrigam a maior parte da população do país, e nesses municípios estão os maiores problemas de baixa mobilidade, congestionamentos e mal uso de espaços públicos, que precisam de revitalização, segurança e atividade para atraírem o interesse dos cidadãos, contribuindo na qualidade de vida do trabalhador, de sua família e consequentemente de toda a sociedade. Não há solução fácil e simplistas para tais desafios complexos, porém, é de se esperar que em época de eleições esses temas ocupem as propagandas, os discursos, os debates e os programas de governo. O alerta está feito.
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