Procurando desesperadamente por alguma notícia realmente boa no campo da economia, o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, resolveram apostar na reconquista do grau de investimento, um “selo de bom pagador” concedido por agências internacionais de classificação de risco, e que o Brasil já ganhou em 2008, para perder menos de uma década depois, graças ao descalabro dilmista. A dupla aproveitou a viagem a Nova York, onde Lula participa da Assembleia Geral da ONU, para se reunir com representantes da Standard & Poor’s e da Moody’s, na segunda-feira, e da Fitch, no dia seguinte. Em todas essas agências, a nota brasileira está dois degraus abaixo do grau de investimento; na Moody’s, ela tem perspectiva positiva, enquanto nas outras duas ela é estável.
Haddad disse que Lula havia pedido um cronograma para o Brasil recuperar o grau de investimento, citando o fato de o país ter chegado a esse patamar no segundo mandato do petista, entre 2007 e 2010. Em vez de responder com a frase clássica dos prospectos de fundos de investimento, segundo os quais “ganhos passados não são garantia de resultados futuros”, Haddad, ciente de que o chefe odeia ser contrariado, resolveu alimentar as esperanças de Lula. “Eu disse para ele que nós aguardávamos uma nova rodada de aumento da nota para o ano que vem (...) os prognósticos da equipe técnica da Fazenda são muito bons”, disse o ministro a jornalistas.
Hoje, o país se parece muito mais com o Brasil que perdeu o grau de investimento que com o Brasil que o conquistou
O que não está dito, obviamente, é que as diferenças entre o Brasil de 2008 e o de 2024 são gritantes. Uma década e meia atrás, Lula ainda demonstrava algum respeito pelo tripé macroeconômico, uma herança bendita de seu antecessor Fernando Henrique Cardoso (embora àquela altura as raízes da Nova Matriz Econômica já começassem a ser lançadas), e o Brasil vivia a euforia da descoberta do pré-sal. Hoje, o país se parece muito mais com o Brasil que perdeu o grau de investimento que com o Brasil que o conquistou: crescimento econômico sustentado por gasto governamental e estímulo ao consumo, déficits crescentes, manobras orçamentárias, dívida pública em trajetória de alta. Como afirmamos dias atrás, a meta de resultado primário estabelecida no arcabouço fiscal pode até ser cumprida, mas o será apenas porque várias despesas estão sendo deixadas de fora da conta oficial, o que fará o resultado real ser bem pior que o oficial.
E, se nenhum investidor se deixa enganar por esse tipo de falácia, quanto mais as agências de classificação de risco, que observam movimentos como a redução do contingenciamento de gastos anunciada semana passada por Haddad, e que vão na contramão do ajuste necessário para sanear o caos fiscal brasileiro. O país não faz as reformas estruturantes que precisa fazer; insiste na ampliação do gasto público apostando em bancá-lo com elevação de receitas, especialmente por meio de impostos; e desmoraliza suas âncoras fiscais apenas um ano depois de sua aprovação. Com essa estrutura fiscal corroída, de pouco adianta não depender de financiamento externo ou exibir números como o mais recente crescimento do PIB – que, recorde-se, ainda é muito mais movido a consumo que a investimento.
Em julho, o Paraguai se juntou a Colômbia, Uruguai, Chile e Peru na lista de nações sul-americanas que têm atualmente o selo de bom pagador em ao menos uma das três grandes agências. A Moody’s justificou sua elevação da nota paraguaia afirmando que o país tem um crescimento não apenas “robusto”, mas “sustentado”, com “reformas institucionais” e “solidez fiscal”. Este é o receituário que Lula e Haddad precisam começar a colocar em prática se não quiserem que o grau de investimento se torne um sonho inalcançável.
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