Em uma campanha acirrada, que em certos momentos chegou a descambar para a troca generalizada de acusações em vez da discussão sobre propostas para Curitiba, o ex-prefeito Rafael Greca (PMN) venceu o deputado estadual Ney Leprevost (PSD) e voltará a comandar a capital paranaense, depois de já ter ocupado o mesmo cargo entre 1993 e 1996.
Sua passagem anterior pelo Palácio 29 de Março, aliás, foi um dos trunfos usados por Greca na campanha. Integrante do grupo político de Jaime Lerner, sucedeu-o após o terceiro mandato do arquiteto e urbanista como prefeito de Curitiba. A cidade já gozava da fama de polo de inovações urbanísticas, iniciada na década de 70, e de capital com qualidade de vida. Greca manteve essa reputação – entre suas realizações como prefeito está a criação dos Faróis do Saber, das Ruas da Cidadania e de parques como o Tingui, o Tanguá e o Bosque Alemão – e, com o bordão “volta Curitiba”, apelou à memória afetiva do curitibano a respeito de uma época em que a cidade era inovadora e respeitada, o que, segundo a campanha, já não ocorreria atualmente.
Tanto Greca quanto Leprevost fizeram promessas que pareciam ir além da capacidade orçamentária do município
Que Greca conhece a cidade com a palma da mão não é novidade, mas o conhecimento enciclopédico e a afeição que tem por Curitiba não serão suficientes se ele não compreender que a administração de uma cidade nos dias de hoje tem diferenças notáveis em relação à época em que Greca foi prefeito pela primeira vez. Antes de mais nada, há a Lei de Responsabilidade Fiscal, que passou a vigorar em 2000 e impõe uma série de restrições – saudáveis, é preciso dizer – aos governantes no que diz respeito ao uso dos recursos públicos. Além disso, nos últimos anos consolidou-se um movimento que delega cada vez mais responsabilidades aos municípios sem que haja a respectiva contrapartida no repasse dos impostos, uma consequência do pacto federativo torto que vigora no Brasil. E, ao lado desses fatores mais perenes, há uma dificuldade do momento: a crise, que afeta o montante à disposição da Prefeitura com a queda na arrecadação causada pela redução da atividade econômica. Durante a campanha, tanto Greca quanto Leprevost fizeram promessas que pareciam ir além da capacidade orçamentária do município. Adequar esses planos à realidade será o primeiro desafio do novo prefeito.
E os desafios não são poucos: no campo do urbanismo, o transporte público que era considerado referência quando Greca esteve na prefeitura pela primeira vez perdeu espaço para outras cidades na corrida pela inovação: enquanto o sistema curitibano manteve a integração por meio dos terminais, outras capitais já adotaram a integração temporal. Além disso, houve o rompimento entre a rede municipal e a rede metropolitana, em prejuízo de quem precisa se deslocar entre Curitiba e as cidades do entorno. As soluções urbanísticas, no entanto, são apenas parte do avanço que se deseja para a cidade, que precisa melhorar especialmente no tratamento dos mais vulneráveis – basta perceber o preocupante aumento da população de rua.
Independentemente de preferências partidárias, que Curitiba e seus moradores sejam a prioridade do novo governante, de seus auxiliares, de sua base de apoio no Legislativo municipal, da oposição, da sociedade civil organizada e de todos os demais atores relevantes no cenário municipal. Cada um, na função que ocupa, tem muito a contribuir para a cidade – que, no fim, é onde as pessoas vivem e cujo governo é o que está mais perto do cidadão – ser um lugar cada vez melhor.
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