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Terminou sem sucesso uma reunião, na segunda-feira, dia 22, do Eurogrupo, formado pelos ministros de Finanças dos países que adotam o euro como moeda única. Eles já prometeram um novo encontro, ainda nesta semana, para analisar a dramática situação grega. O país mediterrâneo está à beira do calote: parte de sua dívida precisa ser paga no fim de junho, mas a Grécia não tem como entregar 1,6 bilhão de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Os gregos ainda têm dívida vencendo em julho e agosto: são 6,7 bilhões de euros para o Banco Central Europeu (BCE), outra das instituições que socorreram a Grécia após a crise internacional de 2008.

No domingo, antes da reunião de ministros, o premiê grego, Alexis Tsipras, conversou por telefone com a chanceler alemã, Angela Merkel; com o presidente francês, François Hollande; e com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, apresentando uma proposta que espera ver aprovada, livrando a Grécia do calote e de suas consequências – que, na pior das hipóteses, podem chegar à saída do país da zona do euro e até mesmo da União Europeia. Tsipras ofereceu um pacote de ajuste fiscal que corta gastos do governo, eleva impostos e reduz algumas desonerações, mexendo pouco nas aposentadorias, um tema muito sensível entre os gregos. Com isso, Tsipras afirma ser possível chegar às metas fiscais exigidas pelos credores sem sacrificar demais os cidadãos.

A situação grega é o exemplo perfeito do que acontece quando a gastança se estabelece como um modo de governo. O país passou décadas inchando o setor público e oferecendo todo tipo de benefício sem se preocupar com qualquer espécie de equilíbrio fiscal. Quando um governo gasta como se não houvesse amanhã, e age assim durante um longo tempo, cria um problema que não será resolvido sem reformas drásticas – e, mesmo com a adoção dessas medidas, nem sempre o equilíbrio é atingido rapidamente.

A situação grega é o exemplo perfeito do que acontece quando a gastança se estabelece como um modo de governo

Os credores têm uma decisão complicada a tomar, e que não se resume a considerações como escolher entre receber de volta parte da dívida ou não receber absolutamente nada. Nunca um país deixou a zona do euro e, por mais que economistas tentem prever quais seriam as consequências de um “Grexit” (termo cunhado para descrever a eventual saída grega), os efeitos sobre a moeda única e os países que a adotam, bem como sobre a Grécia e sua população, são uma incógnita. Nem mesmo os gregos querem pagar para ver, pois a maioria deles quer que o país permaneça na zona do euro, segundo pesquisas recentes. Mas é a mesma população que se acostumou com a gastança e passou a defender que o governo faça nas contas públicas aquilo que nenhum chefe de família pensaria em fazer nas contas particulares: foi assim que Tsipras e seu partido de extrema-esquerda, o Syriza, venceu as eleições gregas em janeiro deste ano, com um discurso antiausteridade. A população ainda não percebeu que não há como ter o melhor dos dois mundos.

O impasse grego ainda apresenta outras questões de fundo. Trata-se de descobrir que grau de austeridade é possível exigir de um país sem criar uma recessão tão profunda que bloqueie as perspectivas de retomada do crescimento econômico. E, do outro lado da balança, é preciso pensar em como evitar o risco moral que surge quando se passa a mão sobre a cabeça de quem insiste em se comportar de forma irresponsável, o que estimularia outros atores (no caso, governos nacionais) a agir da mesma forma, contando com a mesma “compreensão”. De certa forma, é o que ocorreu em 2008, quando o Lehman Brothers, ao ver outros bancos sendo socorridos pelo governo norte-americano, deu como certo que poderia assumir riscos excessivos, pois teria o mesmo tratamento se algo desse errado. Não teve, e o que veio depois abalou o mundo inteiro.

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