A greve dos médicos peritos do Ins­­tituto Nacional de Seguro Social (INSS), que já completou um mês de vigência e mais uma vez paralisou um serviço essencial ao público, prejudicando milhões de pessoas em todo o Brasil, mostra mais uma vez a urgente necessidade de regulamentação do direito de greve no serviço público. Até hoje, mais de 20 anos após a promulgação da Constituição Federal, que prevê o direito do servidor público à pa­­ralisação, ainda não foi aprovada qualquer regulamentação nesse sentido. O Congresso Nacional sempre foi omisso nesse aspecto, penalizando a sociedade como um todo. E o governo do presidente Lula, neste ano eleitoral, faz de tudo para empurrar problemas como esse para debaixo do tapete.

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Quem necessita de perícia médica para receber algum tipo de benefício da Pre­­vidência Social no Paraná está enfrentando o caos. Se o atendimento em "expediente normal" já era demorado, diante das falhas crônicas do sistema (o segurado era obrigado a permanecer 30 dias na fila para atendimento), esse tempo, agora, se estendeu para 120 dias. Assim, quem procurar um médico perito do INSS hoje só será atendido em dezembro. E se for caso de urgência? Má sorte de quem precisar! Será necessário recorrer à Defensoria da União e mover uma ação de "obrigação de fazer". Parece um absurdo, mas a triste realidade é essa.

Os peritos estão em greve alegando falta de segurança. Segundo dados do sindicato nacional da categoria, no ano passado foram registradas 72 agressões físicas a médicos do INSS, por diversas razões. Em anos anteriores, alguns casos chegaram ao extremo: dois peritos foram mortos por segurados entre 2006 e 2007. É claro que os médicos precisam de tranquilidade para fazer seus laudos com isenção. O incrível é que, sendo a segurança um atributo inerente a essa atividade profissional, o INSS não tenha dado ainda garantias de trabalho a seus funcionários.

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De qualquer forma, a greve é abusiva. E parece que nenhuma autoridade está ligando para isso. Tanto que o fato é escancarado pela própria Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP): 95% dos 5,4 mil profissionais do país estão de braços cruzados. O Supremo Tribunal de Justiça (STJ), diante da falta da regulamentação, estipula que 50% dos atendimentos sejam mantidos. Isso não é respeitado. O STF também determina que o Estado deve seguir, nas negociações para resolver conflitos, o mesmo instrumento que impõe limites às paralisações na iniciativa privada, a Lei 7.783, de 1989. Não há respeito também a essa determinação.

Essa atitude dos peritos é, a rigor, a mesma prática que vem sendo adotada por quase todas as categorias de servidores públicos no governo Lula. Outro exemplo que vem castigando os brasileiros, no momento, é a paralisação dos funcionários do Ministério do Trabalho há vários meses. Quem precisa tirar a sua carteira de trabalho, foi demitido ou quer trocar de emprego está sendo extremamente prejudicado. São serviços essenciais à população que estão sendo sonegados, sem que haja qualquer penalidade para os desrespeitosos grevistas e seus líderes.

A regulamentação do direito de greve nos serviços públicos não deve se restringir apenas aos aspectos repressivos. Deve facilitar as negociações entre patrões e empregados, pois é preciso discutir também as causas das paralisações. Sem a regulamentação ur­­gen­­te, contudo, esse quadro continuará o mes­­mo. Diante da omissão do Congresso e das autoridades constituídas, a sociedade continuará sofrendo quando necessitar de serviços públicos essenciais.