Na década de 1970, durante o regime militar, Curitiba e região metropolitana experimentaram a primeira forte onda migratória da modernidade. Em grande parte, eram trabalhadores rurais ou colonos do interior do estado e dos estados vizinhos que, por consequência do modelo econômico que vinha se consolidando no país, foram expulsos de suas terras ou obrigados a procurar uma nova forma de ganhar a vida. Esse contingente vinha engrossar a população de uma metrópole industrial em formação.
Assim o processo de inchamento de Curitiba e de outras metrópoles brasileiras continuou. No fim da década de 1990, com a implantação do polo automobilístico no entorno da capital paranaense, a onda migratória ganhou um novo impulso. Mas não eram mais famílias de agricultores, e sim pessoas de todo o Brasil, com ou sem qualificação, em busca de oportunidades de emprego e de vida.
Hoje, o fluxo de novos habitantes continua muito vivo. Dados citados na Gazeta do Povo nesta semana pelo economista Robson Gonçalves, professor do ISAE-FGV, dão conta de que, entre 2008 e 2009, foram constituídas cerca de 42 mil novas família na região, um aumento de 4%, taxa bem acima dos padrões nacionais. Em Porto Alegre, por exemplo, esse porcentual foi de 0,3% e na região metropolitana de São Paulo o número de famílias caiu 0,7% no mesmo período, cita o professor.
Em maior ou menor grau, quase todas as metrópoles continuam recebendo diariamente novos habitantes, por força da dinâmica da economia. As consequências dessas idas e vindas, que geram ocupações desordenadas como ocorrem em Curitiba e região, mostram as estatísticas, são bem conhecidas. Toda a ordem de problema urbano assola essas populações: falta de saneamento básico e infraestrutura urbana; destinação inadequada do lixo; poluição de rios e córregos; aumento contínuo do tráfego de veículos; crescimento exacerbado da violência entre muitos outros.
Um dos problemas mais importantes afinal, é o ponto de fixação do homem é a precariedade e a falta de habitação para tanta gente. O governo vem agindo com mais vigor para combater o déficit habitacional do país, desde 2007, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), investindo cerca de US$ 12 bilhões para a urbanização de favelas. Além disso, o programa Minha Casa, Minha Vida promete a construção de 1 milhão de novas moradias. E o PAC 2, apesar do atraso nas obras, deve proporcionar moradias para mais 2 milhões de famílias.
Mesmo assim, o déficit habitacional continua aumentado. Entre 2008 e 2009, segundo o professor Robson Gonçalves, o número total de moradias no país cresceu 1,8%, o equivalente a cerca de 1 milhão de unidades. "É bem mais do que o crescimento populacional que está na casa de 1% ao ano. Mas, impulsionado pelo bom momento do mercado de trabalho, o número total de famílias aumentou 2,3% no ano passado. Isso significa que foram formadas cerca de 1,4 milhão de novas famílias e, portanto, o crescimento do número de moradias não foi suficiente para atender à demanda. Em números relativos, o déficit habitacional brasileiro passou de 7,7% para 8,2% do número total de domicílios", analisa o economista.
Como é possível ver, todos esses investimentos não serão suficientes para atender às necessidades habitacionais da população ou corrigir os problemas da falta de planejamento do passado. Serão necessários muitos programas de crescimento como o PAC, ao longo de décadas e talvez nunca se consiga dar casa para todos, nos grandes centros , caso o governo não reveja o modelo econômico que prioriza em demasia o desenvolvimento das metrópoles.
Para mudar esse temeroso quadro, será preciso criar cada vez mais estímulos econômicos em outras regiões do país, que não sejam os grandes centros; implantar políticas regionais consistentes e duradouras; estimular a vocação local; dar condições plausíveis para fixar os cidadãos em seus locais de origem; oferecer oportunidades de mais renda para os pequenos proprietários rurais. Enfim, criar uma política de Estado a longo prazo que mude o eixo geográfico de desenvolvimento do país. Só assim o Brasil vai diminuir os problemas das grandes metrópoles, especialmente o de habitação, e evitar ao mesmo tempo os desastrosos erros do passado.