Apesar de o Brasil ter suportado bem as crises mundiais, nos primeiros meses de 2012 alguns indicadores econômicos não estão bons

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Há tempo de plantar e tempo de colher, tempo de vacas gordas e tempo de vacas magras. Os manuais de Economia afirmam que, em relação à produção e o consumo, o sistema funciona em ciclos de curto prazo e ciclos de longo prazo. Os ciclos de prazo curto completam seu percurso em torno de dez anos. No caso brasileiro atual, parece que mais uma vez a realidade provará a verdade das teorias.

Em 1994, o Brasil deu a partida para um ciclo de prosperidade, cujos fatores positivos foram o Plano Real, que permitiu dominar a inflação; o saneamento do sistema financeiro, com o programa de recuperação de bancos (Proer) e a privatização de bancos estatais falidos, que promoveu a solidez do sistema; a lei de responsabilidade fiscal, que colocou um freio na gastança dos governos municipais, estaduais e federal; as privatizações de empresas estatais, que propiciaram investimentos e ampliação do sistema de telefonia, energia, transportes, siderurgia, entre outros.

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Esse foi o trabalho deixado por Fernando Henrique Cardoso que Lula, inteligentemente, não desfez. Ao assumir o governo, em 2003, Lula começou a colher os benefícios da crescente demanda internacional, sobretudo da China, e a elevação acentuada dos preços dos produtos exportados pelo Brasil. Por uma dessas conjunções favoráveis da história, os preços dos produtos importados começaram a cair, à exceção do petróleo, cujos preços, apesar de aumentarem, não prejudicaram o Brasil, pois a produção nacional tinha subido o suficiente para garantir o abastecimento interno.

De 2003 a 2009, o Brasil colheu um ciclo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), aumento do emprego e da renda, formação de elevadas reservas internacionais, ampliação dos programas sociais e ascensão das classes C e D. Ao conseguir melhorar o quadro social, Lula teve méritos, mas a realidade mundial ajudou muito e o Brasil melhorou.

Dilma Rousseff assumiu em 2010 sob os efeitos da crise financeira iniciada nos Estados Unidos em 2007, e logo em seu primeiro ano de mandato a economia europeia veio abaixo. A crise na zona do euro se mostrou profunda, a China começou a dar mostras de fadiga econômica, a economia norte-americana se recupera de forma lenta. Dilma não conta com o mesmo quadro mundial favorável que beneficiou a gestão de Lula.

Apesar de o Brasil ter suportado bem essas crises, os primeiros meses de 2012 anunciam o surgimento dos ciclos. Não que o país vá mergulhar em crise profunda, mas alguns indicadores econômicos começaram a piorar. As safras agrícolas sofreram queda; a seca castigou algumas regiões; o desemprego aberto, que era de 4,5% da população ativa, ameaça ficar acima de 6%; a inadimplência dos devedores nas carteiras de crédito ao consumo aumentou; o endividamento das famílias atingiu níveis elevados.

Caso a demanda mundial por alimentos e outros produtos exportados pelo Brasil venha a cair e levar a uma diminuição dos preços internacionais, o governo terá de pensar em medidas destinadas a amenizar a deterioração do quadro econômico. O problema é que o governo brasileiro acostumou-se a viver com arrecadação tributária crescente e tem muita dificuldade em fazer cortes nos gastos, principalmente nos com pessoal e custeio, já que, em relação aos investimentos, os gastos precisam aumentar.

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O governo é responsável por encaminhar a solução dos problemas, mas ele é também causa de problemas. A ineficiência do setor público é amenizada nos tempos de vacas gordas e se aprofunda nos tempos de vacas magras. Como o Estado retira 38% da renda nacional em forma de tributos, o governo é uma entidade econômica gigantesca e qualquer mexida no orçamento fiscal tem efeitos imensos sobre a economia. A prudência recomenda que o governo não deve esperar o agravamento da crise nem a piora dos indicadores econômicos para tomar medidas. Governar é também a arte de antecipar-se aos fatos e agir para amenizar seus efeitos negativos.