A visita ao Brasil do presidente da Síria, Bashar Al-Assad, é o exemplo mais recente da estratégia da política exterior brasileira implementada pelo governo Lula: buscar novos parceiros e mercados pelo mundo, de forma que o país fique menos dependente dos Estados Unidos e dos aliados tradicionais. E que possa mostrar cada vez mais personalidade nas relações bilaterais e influenciar a correlação de forças entre Oriente e Ocidente, já que é um país que se encontra em um novo patamar político e econômico no cenário internacional e merece, portanto, esse novo status.
Os informes da visita do presidente sírio dão conta de que Lula defende o envolvimento cada vez maior do Brasil na pacificação do Oriente Médio, argumentando que a Síria é "um sócio indispensável" na busca da paz. O presidente brasileiro manifestou seu apoio à devolução das Colinas de Golã para a Síria, atualmente em poder de Israel, e a criação de um Estado palestino. Mas condenou os atos terroristas contra Israel, o bloqueio e os ataques do Estado judeu à Faixa de Gaza. Os dois presidentes, no entanto, consideraram pequeno o volume do comércio bilateral, que cresceu de US$ 78 milhões para US$ 307 milhões, entre 2003 e 2009.
Protocolarmente, tudo parece muito bonito no palco do teatro da diplomacia. Mas, na prática, os resultados do conjunto das ações brasileiras no exterior não têm correspondido a este céu de brigadeiro, que só parece límpido no eixo monumental de Brasília. A política do presidente Lula, aparentemente produtiva e pacifista na superfície, a rigor, vem sendo marcada por um vício de origem, que poderia ser chamado de aparelhamento do Itamaraty com as posições mais ortodoxas do PT, em que predomina a visão do esquerdismo dos movimentos sindical e estudantil dos anos 1970 e 1980.
Resultado 1: as posições do Brasil em relação ao desastrado affair de apoio ao ex-presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, ao alinhamento incondicional de Lula à política autoritária de Hugo Chávez, na Venezuela, ao estadismo delirante de Evo Morales, na Bolívia, e à vexatória defesa da perigosa política nuclear do Irã são os exemplos mais contundentes dos equívocos recentes dessa política exterior.
Resultado 2: de tão preocupado com "a paz mundial" e a "libertação das amarras ianques", o Brasil acabou relegando ao plano inferior questões importantes e aliados históricos na sua vizinhança e nas Américas, como o Mercosul, as pendências com a Argentina e a própria relação privilegiada que tinha com os Estados Unidos.
O caso do Mercosul é o maior exemplo. Lula sempre destacou a importância estratégica desse acordo para o seu governo, no que poderia constituir uma espécie de base material para a união política da América do Sul. Na visão do Itamaraty, a região deveria estar livre de influências externas, obviamente dos EUA, e das limitações hegemônicas impostas por Washington (notadamente no âmbito da Alca). O Mercosul atuaria, nesse caso, como uma fortaleza defensiva contra as investidas norte-americanas.
Tal política parece não ter sido muito bem acolhida pelos países mais importantes da região. Estes continuam mantendo com os EUA relações privilegiadas à altura de 30% ou 40% de suas exportações e que dependem de seus capitais e tecnologia (tanto quanto, ironicamente, o Brasil). O Mercosul emperrou diante disso.
A política externa engajada dá mais discurso e desperta mais atenção dos holofotes, mas, a longo prazo, certamente, vai trazer mais prejuízos do que benefícios ao Brasil.
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