Um rombo estimado pelo Tribunal de Contas e pelo Ministério Público Estadual em R$ 3,2 bilhões, que ameaça a sobrevivência do instituto Paranáprevidência, obrigou o governador Orlando Pessuti a encaminhar à Assembleia Legislativa, na semana passada, projeto de lei alterando de 10% para 11% a alíquota de contribuição dos servidores públicos ativos e abrindo a possibilidade de os inativos virem a se tornar também contribuintes. No fundo, a mensagem configura constrangedora confissão do governo de que, ao longo dos últimos anos, não cumpriu a parte que lhe cabia para manter saudável o sistema previdenciário do funcionalismo.

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De fato, por decisão tomada logo no primeiro ano de sua gestão anterior, o então governador Roberto Requião isentou os servidores inativos do recolhimento de contribuição. Mais: deixou de repassar, para o patrimônio da instituição, como seria de sua obrigação legal, bens ou valores destinados a garantir receitas adicionais para o instituto. O resultado prático dessa política é a constatação de que a partir de 2018 a Paranáprevidência passaria a acumular déficits em suas operações, uma séria ameaça à liquidez do sistema e, consequentemente, ao pagamento de aposentadorias e pensões a seus segurados. Caso medidas corretivas não sejam tomadas, a alternativa inevitável será a de destinar verbas crescentes do Tesouro para tal fim, desviando-as de outras carências do estado.

O remédio proposto pelo governo nesse finzinho da era iniciada por Requião e completada por Pessuti é visto como indispensável, embora todos saibam tratar-se de medida paliativa. Ainda assim, a iniciativa ganhou apoio tácito da equipe de transição que representa o governo a ser exercido a partir de 1.º de janeiro por Carlos Alberto Richa. Pode assegurar sobrevida ao atual sistema previdenciário estadual, mas não lhe devolve saúde suficiente para garantir segurança permanente.

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Criada no governo Jaime Lerner, a Paranáprevidência deve seus padecimentos, além dos motivos já citados, ao modelo adotado. Especialista na área – e ele próprio um dos que prestaram assessoria para a criação do serviço estadual –, o economista paranaense Renato Follador, referindo-se à situação da previdência pública federal, afirmou em recente entrevista que essa "caminha para o colapso financeiro por ser de repartição como o INSS". Segundo ele, "o sistema é deficitário. Para que isso mude seria preciso três servidores na ativa para financiar cada aposentadoria. Atualmente essa relação é de um para um" – cenário que já leva a um déficit de R$ 47 bilhões por ano (como já verificado em 2009), obrigando o Tesouro Nacional a despender importância equivalente para cobrir o rombo – evidentemente subtraindo recursos que poderiam ser destinados à educação, saúde, segurança.

De acordo com ele, a solução ideal é o estabelecimento de um sistema de capitalização – a exemplo daquele adotado pelos fundos de pensão das estatais – para os novos servidores que ingressarem na administração pública, o que garantiria total equilíbrio de suas contas no prazo de 30 anos, mesmo tempo em que, gradativamente, vão se extinguindo as obrigações resultantes do vigente sistema de repartição.

Não é socialmente justo que o atual sistema, frágil sob todos os aspectos, seja mantido. Mais do que soluções paliativas, cabe aos governantes, responsavelmente, encontrar a fórmula ideal e segura para todos. Não se pode ser imprevidente com a previdência.