Durou apenas alguns dias a indicação do economista Adriano Pires para comandar a Petrobras. Antes mesmo que seu nome fosse referendado na Assembleia Geral Ordinária marcada para o dia 13, Pires avisou o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que estava recusando o convite. Tanto o Comitê de Pessoas da estatal quanto o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União se mostraram contrários à nomeação devido a possíveis conflitos de interesse, já que o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria criada por Pires há mais de 20 anos para atuar no setor de óleo e gás, tem clientes que também são players no setor e, por isso, seriam afetados por eventuais decisões de Pires à frente da estatal, mesmo que ele já tivesse se desligado do CBIE – em especial, um dos clientes da consultoria está envolvido em uma disputa judicial bilionária contra a petrolífera.
De fato, se por um lado a experiência de décadas no ramo dá a Pires uma expertise única e que poderia muito bem ser aproveitada por uma estatal como a Petrobras, por outro a rede de clientes e relacionamentos criada por meio da consultoria acabou se mostrando um obstáculo importante para que o economista assumisse o cargo, ainda que sua atuação como consultor não fosse segredo para ninguém. Depois dos anos de pilhagem promovida pelo petismo na petrolífera, é imprescindível que não paire a menor dúvida acerca dos nomes escolhidos não apenas para a presidência da estatal, mas também para suas diretorias. Com a exceção de funcionários de carreira da Petrobras e, talvez, de nomes da academia especializados em questões do setor de petróleo, qualquer outro nome com atuação direta no setor muito provavelmente terá algum tipo de relação que prejudique uma eventual nomeação.
A Petrobras e o setor de petróleo e gás do Brasil precisam de alguém disposto a preservar a estatal de interferências populistas e que acredite na abertura à competição em toda a cadeia (da produção à distribuição) como a chave que, no médio e longo prazo, deixará os combustíveis mais baratos
Mas, ainda que a Petrobras não possa contar com a experiência de Adriano Pires, ganhará muito se o próximo presidente da companhia for alguém com as mesmas ideias do economista, seja um executivo vindo de outra área, seja um funcionário de carreira da estatal, seja alguém que ocupe cargo no governo (um nome cotado é o do secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade). A Petrobras e o setor de petróleo e gás do Brasil como um todo precisam de alguém disposto a preservar a estatal de interferências populistas que pretendam reduzir na marra o preço dos combustíveis, que trabalhe firme no plano de desinvestimento da empresa, que acredite na abertura à competição em toda a cadeia (da produção à distribuição) e mesmo na privatização como a chave que, no médio e longo prazo, deixará os combustíveis mais baratos.
Exatamente por isso causa preocupação o comunicado feito pela Petrobras a acionistas estrangeiros. “No futuro, poderá haver períodos durante os quais os preços de nossos produtos não estarão em paridade com os preços internacionais. Ações e legislação impostas pelo governo brasileiro, como nosso acionista controlador, podem afetar essas decisões de preços. O presidente brasileiro tem, algumas vezes, feito declarações sobre a necessidade de modificar e ajustar nossa política de preços para as condições domésticas (...) uma nova equipe de administração ou Conselho de Administração poderá propor alterações em nossas políticas de preços, incluindo a decisão de que tais políticas não busquem alinhamento com a paridade internacional de preços (...) Mudanças em nossa política de preços de combustíveis podem ter um impacto material adverso em nossos negócios, resultados, condição financeira e valor de nossos títulos”, afirmou a empresa em formulário da SEC, o equivalente norte-americano da Comissão de Valores Mobiliários brasileira. O comunicado dá a entender que pode haver uma reversão da política de preços que vem garantindo a recuperação da Petrobras após os anos de gestão desastrosa petista.
Um eventual abandono da atual política de preços e sua substituição pelo voluntarismo populista seria o retorno do modelo petista de gestão, uma receita para o desastre futuro, como já fez questão de avisar o Comitê de Política Monetária: em fevereiro deste ano, o Copom escreveu, em comunicado após uma elevação da Selic, que “mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”. O órgão referia-se à PEC dos Combustíveis, em discussão na época, mas o alerta também vale para uma interferência populista que independa do Congresso Nacional. A redução de preços por meio de canetadas tem longo histórico no Brasil, com índice zero de sucesso. É um erro que a Petrobras não pode voltar a cometer.
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