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A globalização aumentou a integração comercial entre os países, promoveu elevação do coeficiente de comércio exterior (relação resultante do volume de exportações mundiais de bens e serviços dividido pelo produto bruto do planeta) e permitiu maior disseminação das tecnologias entre os países. Tudo isso deu, sobretudo às nações atrasadas, um novo ímpeto desenvolvimentista e criou possibilidade de um país diminuir o tempo de saída do subdesenvolvimento até o desenvolvimento econômico.

Nenhum país, por mais adiantado que seja, consegue criar, sozinho, todas as tecnologias e inovações necessárias para sair do atraso rumo à riqueza e melhorar o nível de bem-estar social de seu povo. O intercâmbio de mercadorias, serviços e tecnologias é uma conquista da humanidade e uma boa oportunidade para a superação da pobreza na Terra. Entretanto, esse processo não se faz sem sobressaltos, sem recuos e sem conflitos. A globalização – que não é nova nem acontece pela primeira vez na história – é um processo de avanços e retrocessos, que necessita de reparos e melhorias constantes.

Um dos aspectos complexos da globalização é que, ao lado de seus efeitos positivos, as crises econômicas e políticas afetam, cada vez com mais intensidade, todos os países. Foi-se o tempo em que um país podia dar-se ao luxo de ser tão fechado ao ponto de não sofrer as conse­quências das crises ocorridas fora de suas fronteiras. Mas era o tempo, também, em que as nações fechadas não se beneficiavam das trocas comerciais nem da apropriação das tecnologias estrangeiras.

No mercado globalizado, as crises mundiais e as oscilações econômicas dos países afetam a todos de diversas maneiras, e com o Brasil não é diferente. A economia brasileira depende, e muito, dos rumos da economia chinesa, pela recuperação norte-americana, pelas mudanças no Japão e, mais recentemente, pelas mudanças no comércio internacional da Rússia resultantes do boicote imposto por Moscou contra importações dos Estados Unidos (EUA) e da União Europeia (UE).

Em função dos conflitos políticos, especialmente após a anexação do território da Crimeia pela Rússia, os EUA e a UE impuseram sanções contra personalidades e interesses russos, ao que o governo de Moscou respondeu com o bloqueio comercial, cuja essência está nas declarações do primeiro-ministro Dmitri Medvedev: "A Rússia adota a proibição total à importação de carne de vaca, porco, verduras e hortaliças, frutas, aves, pescado, queijos, leite e produtos lácteos da União Europeia, Estados Unidos, Austrália, Canadá e Noruega".

As medidas restritivas valem por um ano e as conse­quências sobre as economias europeia e norte-americana introduzem novo elemento na rota de recuperação dos países que tinham a Rússia como importante cliente. Um dos efeitos colaterais desse novo quadro é o aumento do grau de incerteza global. Em um primeiro momento, os países latino-americanos podem ganhar, pois as autoridades russas saíram em um grande périplo pelos países da região, inclusive o Brasil, a fim de garantir que esses países substituam os EUA e a UE no abastecimento do mercado russo.

O Brasil já começou a operar vendas de carnes, frutas e outros alimentos para a Rússia, e outros países latino-americanos seguirão o mesmo caminho. Novas rodadas de negociações entre autoridades russas e países da América do Sul vão surgir e daí sairão mudanças na estrutura do comércio mundial. O problema é que se tornou difícil saber com precisão como toda essa situação vai caminhar, pois a ofensiva comercial russa contra os interesses do Ocidente pode continuar, especialmente se os EUA e a UE responderem com novas sanções contra a Rússia caso Moscou não contribua para a solução da grave crise na Ucrânia.

O mundo ocidental está assustado e, de certa forma, até surpreso com as atitudes do presidente russo, Vladimir Putin, e suspeita que ele está disposto a anexar mais território e contribuir para agravar o divisionismo na Ucrânia. O quadro de instabilidade política, que já produziu sérios efeitos sobre a economia mundial, continuará contribuindo para elevação do grau de incerteza em relação ao comércio internacional, aos investimentos estrangeiros e ao fluxo de capitais.

O mundo vive um momento tenso e as previsões econômicas ficaram mais difíceis, tornando menos seguras as decisões dos empresários, banqueiros e investidores internacionais. Resta esperar.

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