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Editorial

Indicadores preocupantes

Os governantes costumam dizer que a imprensa e os analistas gostam de ser pessimistas, apreciam fazer estardalhaço com notícias ruins e não se empenham em louvar as realizações positivas do país. A presidente Dilma tem o hábito de criticar os que ela chama de "pessimistas de plantão" e gosta de se referir a "eles" em seus discursos. O papel da imprensa é divulgar e discutir os indicadores econômicos; no caso dos desempenhos ruins, justamente pelo mal que causam e pela necessidade de serem combatidos, a ênfase na notícia e os debates devem ser maiores, em busca de soluções.

O que está acontecendo nesse início de segundo semestre é que o Brasil acumulou vários indicadores preocupantes no campo da economia, como se já não bastassem os problemas políticos decorrentes das manifestações. Em qualquer lugar do mundo, os três principais indicadores econômicos são o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a inflação e o desemprego; esses indicadores têm forte conexão entre si e o desempenho de um sempre afeta os demais.

No caso brasileiro, a variável principal é o PIB, que precisa crescer constantemente no mínimo para absorver o crescimento da população e o aumento do número de trabalhadores em busca de ocupação. O desejável é que o PIB cresça mais que o aumento populacional, como forma de permitir a melhoria da renda média por habitante. Como a população cresce em torno de 2,1 milhões de habitantes anualmente, qualquer freada no crescimento do PIB torna-se um sério problema. Essa situação ocorreu no ano passado, quando o PIB cresceu apenas 0,9% em relação a 2011, muito abaixo da previsão de 4% feita pelo ministro Guido Mantega no início do exercício.

A inflação anda acima do desejável. O centro da meta fixada pelo Banco Central (BC) é de 4,5%; o IPCA de 2012 bateu os 5,8% e, no acumulado dos últimos 12 meses, está em 6,7%, acima do teto da meta do BC. Em geral, a soma de PIB baixo com inflação alta desemboca na elevação do desemprego mais cedo ou mais tarde. O Brasil ainda não amargou aumento do desemprego, mas não há como ser otimista em prazo mais longo, pois, se o setor produtivo não elevar a produção, as contratações de pessoal não têm como subir. As estatísticas do fim do primeiro semestre, revelando que o produto da indústria caiu na maioria dos setores, são uma péssima notícia para o nível de emprego. Somente a recuperação do comércio e dos serviços no segundo semestre será capaz de impedir o aumento da taxa de desemprego.

Esperava-se – conforme dizia o ministro da Fazenda – que 2013 seria o ano do início da recuperação e o PIB poderia crescer em torno de 3,5%. Os analistas especializados em compreender os indicadores e os intricados meandros da economia alertavam para a dificuldade do Brasil para obter expressivo crescimento em 2013. As razões levantadas iam desde a retração do consumo – motivada pela inflação e pelo elevado endividamento das pessoas – até o travamento da economia pela infraestrutura física precária e incapaz de suportar aumento da produção, conforme ficou provado no caso da safra de soja.

Outro indicador que tem sido debatido atualmente é a taxa de câmbio, particularmente em função da elevação do preço do dólar, que já superou a cotação de R$ 2,20. A taxa de câmbio é variável complexa, pois seus efeitos são opostos em relação às exportações e às importações. O dólar alto favorece os exportadores, estimula as vendas ao resto do mundo e pode dar empurrão no aumento da produção das empresas voltadas ao comércio exterior. Isso é bom. Por outro lado, as importações se tornam mais caras em reais e, no caso das matérias-primas e insumos industriais, a elevação de seus preços tem o poder de gerar inflação.

O equilíbrio econômico e a manutenção de indicadores positivos capazes de manter o país em melhoria constante são tarefas difíceis e, justamente por isso, exigem competência técnica, firmeza política e credibilidade das autoridades econômicas. Esta última depende das atitudes dos governantes, razão pela qual é tão condenável que o ministro Guido Mantega continue com sua prática de manipular dados da contabilidade fiscal para mostrar resultados que não existem.

O Brasil tem enormes desafios para o segundo semestre – não para recuperar os danos já causados ao desempenho de 2013, mas para preparar o terreno necessário ao crescimento em 2014.

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