Após a implantação do Plano Real, em 1994, o atual momento é aquele em que o Brasil conseguiu colher a maior safra de péssimos indicadores econômicos simultâneos. Entre os piores números, quatro merecem destaque: o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a inflação, o desemprego, o déficit público e o déficit externo. Quando um desses indicadores tem desempenho considerado negativo para o país, já é um problema. Mas, se todos pioram simultaneamente, tem-se um quadro econômico extremamente grave, que precisa ser enfrentado com firmeza e medidas vistas como impopulares, pois não se corrige a piora nos quatro indicadores ao mesmo tempo sem doses de sacrifício do governo, das empresas e das pessoas.
Começando pelo PIB, o Brasil está na lamentável condição de ver três anos de PIB estagnado, sendo que 2015 caminha para apresentar queda de mais de 1% em relação ao ano anterior. É um resultado desastroso, sobretudo porque o produto de 2014 não foi maior que o de 2013 e a população segue crescendo. É bem verdade que a fraca demanda internacional contribuiu para a queda das vendas e dos preços dos produtos brasileiros exportados, ajudando a piorar a situação interna. Mas não foi somente a situação externa que criou problemas. Houve também redução da demanda interna, o que era esperado pelo fato de o consumo de anos anteriores ter sido estimulado por dívidas dos consumidores e não por aumento da renda do trabalho.
A piora dos indicadores econômicos tem sempre o desequilíbrio nas contas do governo como uma de suas principais causas
Embora os manuais de economia ensinem que redução na demanda força os preços para baixo, no Brasil houve elevação da inflação, a qual, apesar de a meta ser de 4,5%, deve bater a casa de 9,5% em 2015. Essa contradição vem dos elevados reajustes dos preços da energia, dos combustíveis e do transporte coletivo, que haviam sido represados pelo governo para tentar segurar a inflação. Não é a teoria econômica que está errada, mas sim o fato de esses preços não serem formados no livre jogo da oferta e procura; são preços administrados – ou seja, controlados – pelo governo.
Em um quadro de PIB caindo e inflação subindo, o aumento do desemprego foi a consequência natural; a taxa subiu, em maio, para 6,7% do total das pessoas em condições de trabalhar. O nível de emprego é função direta do crescimento do PIB e da estabilidade da inflação, e o desemprego não pode ser resolvido de forma estrutural com remendos na legislação ou com incentivos tributários isolados. Para aumentar o nível de emprego, o PIB tem de crescer e os preços têm de ficar estáveis.
A piora dos indicadores econômicos tem sempre o desequilíbrio nas contas do governo como uma de suas principais causas, como vem ocorrendo no Brasil nos municípios, estados e União, que vão legar déficit nominal (receitas tributárias totais menos gastos totais, incluindo os juros da dívida pública) em torno de 4% do PIB neste ano, a ser financiado por aumento de dívida. Nos últimos quatro anos de governo, os gastos correram soltos, com tendência de piorar em face do PIB estagnado e receitas tributárias fracas.
Para agravar as coisas, o balanço das relações do Brasil com o resto do mundo também não está bom. O saldo em transações correntes (diferença entre as exportações e as importações de mercadorias e serviços) atingiu o déficit de US$ 95,7 bilhões nos últimos 12 meses. As consequências do déficit externo são a redução das reservas internacionais do país, o que não é bom; e a elevação do preço do dólar, o que pode ajudar a recuperar parte das receitas perdidas em exportações, mas tem o efeito de forçar a inflação para cima em razão do aumento dos preços das importações.
Para tentar reduzir a perda de popularidade, o governo adotou a estratégia de insistir que a culpa é da crise internacional, o que é verdade apenas em parte. Como a demanda mundial caiu, os preços declinaram e, nesse sentido, o Brasil sofreu perdas cambiais. Mas a maior parcela de responsabilidade vem dos erros internos – sobretudo o elevado descontrole nas contas do governo –, que causaram bom estrago e pioraram os efeitos da situação internacional sobre o Brasil. Em resumo, os problemas brasileiros são de fabricação genuinamente nacional, e os erros de política econômica nos anos do governo Dilma Rousseff têm a maior parcela da culpa pela existência simultânea de indicadores ruins na economia. É hora de consertar o estrago.