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Editorial

Indústria e exportações

Vista aérea do Porto de Paranaguá (PR): BR do Mar é considerada o modal ideal para o transporte de grandes cargas por grandes distâncias.
Vista aérea do Porto de Paranaguá. (Foto: José Fernando Ogura/ANP)

Estudos com base na experiência do desenvolvimento brasileiro nos últimos 40 anos revelam que, se o país quiser crescer a taxas superiores ao crescimento da população, o primeiro passo é a busca de exploração de todos os mercados. O sistema produtivo nacional destina-se a produzir bens e serviços para atender o consumo das pessoas, o consumo do governo, o investimento do governo, o investimento das empresas e a demanda internacional. A soma dessas cinco demandas é chamada “demanda agregada”. A primeira causa do estímulo à produção – logo, do emprego, da renda e dos impostos – é a existência de compradores para o conjunto do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, os bens e serviços finais que compõem o PIB.

O mercado é um sistema de sinais que segue mais ou menos uma lógica: a demanda se manifesta, o setor produtivo a identifica, os investimentos são realizados, a empresa entra em operação, o produto é fabricado (com todos os benefícios em termos de geração de emprego e salários), as vendas são feitas... e a economia cresce. No caso do governo, sua demanda se dá por outro caminho. Parte do PIB – vale dizer, parte da renda nacional, que tem o mesmo valor do PIB – é capturada pelo setor estatal por meio da carga tributária bruta, que fornece os recursos financeiros com os quais o governo faz sua demanda a fim de prover os serviços públicos e investimentos decididos no orçamento governamental (municípios, estados e União).

A miopia política e os gritos de nacionalismo irracional boicotaram o que poderia ter sido a semente de um sistema que levaria o Brasil a virar o milênio como um país rico, desenvolvido e membro do clube das nações adiantadas

Entendido esse quadro simplificado, é fácil concluir que um dos principais elementos na dinâmica funcional da economia é a existência e a materialização real da demanda, aí incluída a demanda internacional. Em julho de 1951, foi instalada, sob a liderança do Ministério da Fazenda, a Comissão Mista Brasil-EstadosUnidos para o Desenvolvimento Econômico, que trabalhou e produziu seus resultados até dezembro de 1953, a partir da origem em abril de 1950, quando o governo brasileiro reivindicou financiamento norte-americano para um extenso programa de reequipamento dos setores de infraestrutura. Aquela comissão teve um papel importante na história econômica brasileira, a começar pela base de sua justificativa, que foi a constatação de que o Brasil era altamente dependente de suprimentos internacionais, fazendo que o abastecimento interno fosse vulnerável a eventuais crises de importações.

A comissão mista foi criada composta por técnicos dos dois países, cuja missão era elaborar projetos específicos destinados a expandir o desenvolvimento do potencial econômico brasileiro, cujas prioridades incluíam os setores de transportes, energia, componentes industriais e a agricultura, entre outros. Na época, o Brasil era visto pelos organismos internacionais recém-criados, sobretudo o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, como um país fragilizado em termos de segurança alimentar, segurança militar e segurança energética, a ponto de a diplomacia dos Estados Unidos do governo Truman ter afirmado que a principal tarefa da comissão mista seria encorajar a introdução do capital estrangeiro no Brasil e, junto com ele, a transferência de tecnologia para o crescimento da produção interna.

Ali, há 70 anos, o Brasil ensaiava os passos rumo a uma economia integrada com o resto do mundo, importadora de máquinas, equipamentos e tecnologia, para o que era necessário atuar em outro campo: o desenvolvimento de um forte setor industrial capaz de fornecer o mercado interno e gerar excedentes exportáveis com a finalidade de dotar o país de reservas em moeda estrangeira necessária às importações. Naquele momento, o Brasil teve a intuição certa, mas a miopia política e os gritos de nacionalismo irracional começaram a boicotar o que poderia ter sido a semente de um sistema que levaria o Brasil a virar o milênio como um país rico, desenvolvido e membro do clube das nações adiantadas.

Pois o Brasil chega ao primeiro ano da terceira década do século 21 com a necessidade de retomar os dois assuntos: o desenvolvimento industrial e a expansão de seu comércio exterior, sem os quais qualquer plano de tirar o país do atraso e da pobreza nos próximos 20 anos terá dificuldade em atingir suas metas. Caminhando para vencer a pandemia e retomar um mínimo de normalidade da vida econômica nacional, o país necessita colocar no painel dos debates vários assuntos, com destaque para esses dois temas, pois os problemas continuam os mesmos e os erros também. Isso vale para o Brasil e vale para o Paraná.

Já em 2010, a Gazeta do Povo fazia alerta sobre a crença de que um novo ciclo na indústria paranaense dependeria de um “choque de infraestrutura” representado por investimentos em rodovias, ferrovias, portos, armazéns, aeroportos, energia, telecomunicações etc., bem como sobre a incapacidade dos municípios paranaenses em acolher novas empresas em seus distritos industriais, pela falta de terrenos, pavimentação, eletricidade, esgoto, água, transporte urbano, vias de acesso, logística e sistemas de circulação. A pandemia dominou os assuntos econômicos e a maior preocupação é como recuperar a saúde financeira de pessoas, empresas e governos tão logo o quadro sanitário melhore. Entretanto, os velhos problemas do Brasil continuarão pesando sobre a nação à espera de discussão e providências.

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