A inflação, que havia acelerado no primeiro quadrimestre de 2019, parece estar dando uma trégua nos últimos dois meses, segundo os dados do IBGE. Depois dos sustos de março e abril, quando o IPCA, índice oficial de inflação, chegou a 0,75% e 0,57%, respectivamente, em maio a elevação desacelerou para 0,13%. Nesta terça-feira, o IBGE divulgou o IPCA-15 de junho, que ficou em apenas 0,06%. O IPCA-15 é considerado uma “prévia” do índice oficial, sendo calculado entre o dia 15 de um mês e o dia 15 do mês seguinte, daí o nome.
Com o índice de maio, o IPCA acumulado em 12 meses está em 4,66% depois de ter chegado a quase 5% em abril. O número segue acima dos 4,25% estabelecidos pelo Banco Central como a meta para 2019, mas o Relatório Trimestral de Inflação, divulgado nesta quinta-feira pelo BC, estima que o IPCA terminará o ano em 3,6%, abaixo do centro da meta. Por mais que tenhamos deixado para trás os dias de descontrole inflacionário herdados das gestões petistas, ainda não se pode dizer que um acumulado de 12 meses que oscile entre os 4% e os 5% seja exatamente uma inflação baixa – especialmente quando o alto desemprego, que continua vitimando mais de 10 milhões de brasileiros, indica que o lado da demanda não está tão aquecido, fator que também ajuda a jogar os preços para baixo.
Apenas um cenário favorável de inflação não é suficiente para que a taxa Selic fique abaixo dos atuais 6,5%
Por outro lado, não se pode negar que, pelo menos, a inflação parece estar sob controle, algo que beneficia especialmente os mais pobres, aqueles que não têm recursos sobrando ao fim do mês para se defender do aumento de preços por meio de uma poupança, e por isso não têm como suportar as consequências de uma inflação em alta. O fato de o grupo de alimentos e bebidas ter registrado deflações de 0,56% no IPCA de maio e 0,64% no IPCA-15 de junho também é um alento especialmente para a população de baixa renda.
A inflação sob controle também oferece uma oportunidade ao governo. Sem ter diante de si uma emergência inflacionária que exija atenção prioritária, o Planalto e a equipe econômica podem se dedicar à articulação para a aprovação das reformas e em promover outras medidas de reaquecimento da economia, ainda mais urgentes depois do encolhimento do PIB no primeiro trimestre de 2019. O Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central tem afirmado repetidamente, nos comunicados e atas de suas reuniões, que apenas um cenário favorável de inflação não é suficiente para que a taxa Selic fique abaixo dos atuais 6,5%. É preciso que surja uma nova conjuntura que permita juros mais baixos, e ela só virá com as reformas que deem sustentabilidade fiscal ao Brasil no longo prazo.
José Pio Martins: O índice de miséria (13 de junho de 2013)
O país espera pela votação do parecer do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), relator da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara, e a grande dúvida gira em torno do quanto sobreviverá da proposta do governo, já atenuada no relatório de Moreira. Na questão dos funcionalismos estaduais e municipais, o primeiro round foi vencido pelos parlamentares que, fazendo cálculos eleitoreiros de curto prazo, não querem se indispor com servidores, mesmo que para isso tenham de prejudicar um país inteiro. Deputados ligados a determinadas categorias profissionais continuam pleiteando exigências mais brandas ou benefícios maiores. Há os que desejam uma reforma mitigada, que gere uma economia insuficiente aos cofres públicos, apenas para prejudicar o presidente Jair Bolsonaro. E há os que, por cegueira ideológica, continuam negando a necessidade de mudanças urgentes na Previdência. O choque de interesses levou a um impasse que fez a Comissão Especial perder uma semana inteira, adiando a votação do parecer para o início de julho.
Se todas essas forças prevalecerem, o fim da história será o descontrole total das contas públicas, já que o governo se verá incapaz de gastar em áreas essenciais ou de fazer investimentos, tendo seu orçamento dominado pelo pagamento de aposentadorias e pensões. As reformas precisam ser feitas enquanto ainda não chegamos a um ponto sem volta. Do contrário, restarão apenas as saídas “fáceis” como a explosão do endividamento e a emissão desenfreada de moeda, cujas consequências trarão à memória de muitos brasileiros tempos que pareciam definitivamente superados.
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