| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A expressão “voo da galinha” é usada para se referir aos países que não conseguem crescer por vários anos, pois, logo que o Produto Interno Bruto (PIB) começa a crescer, algum problema acontece no sistema econômico que interrompe a subida, vem o declínio que joga o PIB para baixo e agrava a pobreza, principalmente se a população continua aumentando. A analogia vem do fato de que a galinha é uma ave que inicia um voo, sobe um pouco, não se estabiliza e cai em seguida. Embora tenha asas, a galinha só consegue voar a baixas alturas e distâncias curtas. A economia brasileira também está assim – tem se caracterizado por voar a baixas alturas (pequenas taxas de aumento do PIB) e curtas distâncias (poucos anos).

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Depois de o PIB ter ficado estagnado em 2014, caído 3,5% em 2015 e repetido os mesmos 3,5% de queda em 2016, um pequeno suspiro de crescimento surgiu em 2017, quando o PIB subiu 1%, e se previa que o crescimento voltaria em 2018 à taxa de 3,2%. A galinha econômica brasileira mostrou sua lógica interna, os problemas políticos se agravaram, o governo ficou enfraquecido em meio às denúncias de corrupção, nenhuma reforma andou, veio a greve dos caminhoneiros e, agora, as previsões são de que o crescimento dificilmente passará de 1,5%. Entre os desarranjos mais graves a justificar a baixa expectativa de crescimento está a situação estrutural das contas públicas, que vão de mal a pior, ancoradas em déficits fiscais crônicos e uma dívida pública beirando os 80%. A situação fiscal é muito ruim nos três níveis da Federação.

Sem crescimento econômico, nenhum dos graves problemas nacionais será resolvido

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No meio desse cenário, duas variáveis desempenham papel relevante: a inflação e a taxa de juros. O Banco Central (BC) decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 6,5% ao ano, e tudo indica que não voltará a cair. A explicação do Comitê de Política Monetária (Copom) é de que “os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”. Depois de a inflação oficial de 2017 ter ficado em 2,95%, a greve dos caminhoneiros apareceu no cenário, mostrou sua gravidade, criou sério desabastecimento e, justificada ou não, ajudou a elevar a inflação. Muitos analistas e órgãos de pesquisa estão prevendo que a inflação de 2018 pode passar de 4,5%.

Entre maio e a primeira quinzena de junho, os preços que compõem o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram em torno de 1,1% num período de 30 dias. Mesmo que, ao terminarem os cálculos referentes a junho, o IPCA possa ficar um pouco abaixo dessa taxa, o fato é que a inflação caminha para ficar, na melhor das hipóteses, em 4,5% no ano. Se isso ocorrer, a taxa de juros não cairá e poderá até mesmo subir. O resultado de inflação e taxa de juros subindo simultaneamente é conhecido: retração no PIB, ausência de crescimento. Esse é o problema econômico mais importante que os candidatos à Presidência da República têm a obrigação de dizer à população como vão enfrentar.

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Sem crescimento econômico, nenhum dos graves problemas nacionais será resolvido. Investimento em infraestrutura, melhorias na saúde e na educação, redução do desemprego e redução da pobreza são algumas das necessidades para as quais nenhuma proposta de solução tem chance de sucesso sem crescimento do PIB. Eventuais melhorias pontuais podem ocorrer em termos de gestão e alocação de recursos, mas não em proporção que seja capaz de tirar o Brasil da sina de chegar a 2020 com renda per capita menor do que 2010 – portanto, mais pobre. É difícil ser otimista no Brasil em relação às possibilidades de crescimento econômico e melhoria do nível médio de bem-estar social. Infelizmente, a realidade e os indicadores não permitem, neste momento, vislumbrar melhorias substanciais no curto e médio prazo.

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