O Paraná está com sua base produtiva limitada e, quando a safra aumenta, a infraestrutura de transportes e de portos não aguenta, o desperdício é imenso e a sociedade sofre

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O filósofo e economista Ludwig von Mises disse, há mais de 60 anos, que a capacidade do governo de fazer o bem é limitada, mas a capacidade de fazer o mal é infinita. No Brasil, essa afirmação é especialmente verdadeira. Pelos padrões dos países desenvolvidos, o Brasil continua um país pobre, subdesenvolvido, cujo indicador mais sintomático é a renda per capita um pouco abaixo de US$ 11 mil/ano.

A situação brasileira torna-se mais grave pelo fato de o país ter um nível de pobreza e carência maior que o nível causado pela baixa renda per capita. O valor atual da renda por habitante é suficiente para oferecer um padrão de bem-estar social bem maior que o padrão real, e isso somente não é conseguido em razão da má distribuição da renda e do imenso desperdício derivado dos defeitos do sistema produtivo público e privado.

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O sistema econômico depende de três grandes infraestruturas para produzir os bens e serviços consumidos pela população: a infraestrutura física (estradas, portos, aeroportos, armazéns, energia, telefonia), a infraestrutura social (moradias, escolas, hospitais, creches) e a infraestrutura empresarial (fábricas, máquinas, equipamentos). A combinação adequada em termos de tamanho e distribuição dessas infraestruturas é que dita a maior ou menor eficiência do sistema produtivo e gera mais ou menos bem-estar.

Além de estar com a infraestrutura física e a infraestrutura social em situação lamentável, tanto em termos de quantidade quanto em termos de qualidade, o Brasil padece com a péssima combinação entre as três. Um exemplo notório dos prejuízos causados ao sistema produtivo é a constatação, fartamente divulgada pela imprensa, de que um navio chega a ficar 30 dias parado no Porto de Paranaguá, esperando sua vez de ser carregado.

O tamanho do prejuízo para o estado do Paraná e para a economia brasileira de uma situação como essa é enorme, sobretudo quando multiplicado pelas repetidas vezes em que o problema ocorre. Seguramente, muitos dos políticos e autoridades responsáveis pelo setor não têm conhecimento do problema, e muito menos dispõem de indicadores confiáveis sobre as perdas. Essa situação pode ser comparada com uma família faminta que faz um bolo na cozinha e perde um terço dele no caminho entre o fogão e a mesa.

Quando um navio fica parado no porto, um avião permanece estragado na pista ou um trator dorme na oficina mecânica, os custos são computados no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), fazendo-o crescer em termos monetários, mas a sociedade não usufrui da parte que é mero desperdício. Seria como se a população produzisse coisas que não servem para consumo, as quais, após produzidas, seriam lançadas diretamente ao lixo. A constância com que isso acontece sugere que os homens públicos responsáveis pelas decisões não têm a menor noção de como o PIB é calculado ou não estão dispostos a dar muita atenção ao problema.

O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, embora economista de formação, nunca vem a público para contribuir com alguma ideia ou algum conceito capaz de levar os políticos e os homens de governo a acordarem para a realidade do tamanho do desperdício que situações análogas impõem ao país. No caso do Paraná, o estado é vítima de uma miopia ideo­lógica que, por muitos anos, não aceitou a participação de capitais privados na ampliação e modernização do Porto de Paranaguá. O resultado está aí, na forma de estrangulamento da infraestrutura portuária, que também ocorre no transporte, na armazenagem e em muitos outros setores. A pregação de que todo porto tem de ser estatal gerou uma categoria bizarra: o porto público sem investimentos, para o qual o governo rejeitou capitais privados e não fez os investimentos necessários.

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A conta chegou e veio muito mais salgada do que se poderia imaginar algumas décadas atrás. O Paraná está com sua base produtiva limitada e, quando a safra aumenta, a infraestrutura de transportes e de portos não aguenta, o desperdício é imenso e a sociedade sofre com mais pobreza e mais carências sociais.

Ludwig von Mises ficaria assustado em ver o tamanho da maldade que certos governos causaram e causam à população brasileira, geralmente brandindo uma suposta teoria de defesa do patrimônio público. Aí está o porto público de Paranaguá, velho e ineficiente, com seus navios parados, para provar que realmente não há limites para o mal que o governo pode causar.