A cada semana a direção do Partido dos Trabalhadores vai revelando aos poucos o que realmente pensa. Em carta publicada na página oficial do partido na segunda-feira (8), o presidente do PT, Rui Falcão, sai novamente em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inovando em matéria de graves e levianas insinuações. Além de reafirmar o discurso de ocasião, de que Lula estaria sendo atacado porque saiu da Presidência com aprovação inédita e porque deixou um legado “de realizações a favor dos mais pobres”, Falcão agora inclui um novo ingrediente – as investigações contra o ex-presidente seriam fruto de um “consórcio entre a oposição reacionária, a mídia monopolizada e setores do aparelho de Estado capturados pela direita quer convertê-lo em vilão”.
É certo que as delirantes acusações de que a oposição e a mídia fazem um complô contra o ex-presidente já se tornaram batidas na rasa retórica petista, de modo que nenhum cidadão minimamente informado consegue ainda levá-las a sério. O que é novo na mania de perseguição da direção da legenda é incluir mais um inimigo fictício, que Falcão chama de “setores do aparelho de Estado capturados pela direita”, numa forma velada de se referir ao aparato investigativo-judiciário, que apura suspeitas envolvendo Lula em inquéritos regularmente instaurados.
Rui Falcão joga a militância contra as instituições
A insinuação é bastante grave. Em primeiro lugar, porque Falcão nem sequer apresenta fatos ou dados que sustentem o que declara. Numa atitude leviana, o dirigente petista não oferece nem um único argumento que comprove o tal do “consórcio” contra o partido.
Em segundo lugar, ainda que por falta de coragem não o faça diretamente, Falcão acusa de partidarização o trabalho realizado pelo Poder Judiciário e pelo aparato investigativo-policial no âmbito das operações Zelotes e Lava Jato e no âmbito do Ministério Público de São Paulo. O dirigente petista abusa da mentira e da dissimulação. Essas instituições estão cumprindo o seu dever de forma estritamente profissional. Afinal, Lula é um cidadão brasileiro e, como qualquer outro, não merece especial tratamento.
O Ministério Público e a Polícia Federal jamais poderiam deixar de investigá-lo, e tampouco o Judiciário poderia deixar de aceitar as investigações. Se concedessem ao ex-presidente garantias especiais, estariam violando o princípio pelo qual todos são iguais perante à lei. O esperneio do PT, nesse sentido, é completamente antirrepublicano.
Quando se junta a propaganda em vídeo de 30 segundos em que Falcão defende Lula (transmitido em cadeia nacional na semana passada) com o texto divulgado no site do partido nesta segunda-feira, fica clara a estratégia do PT em tentar mobilizar as militâncias para travar uma campanha ideológica pautada no discurso delirante, sem respaldo nos fatos.
Só que nesta semana, pela primeira vez, o partido deu um passo que soa como uma estratégia de intimidação contra as investigações em curso. Isso porque, além de mentir ao dizer que o aparato investigativo-judiciário foi “capturado pela direita”, Rui Falcão convida a militância a ingressar nas fileiras da defesa de Lula: “É tarefa da militância e de quem tem compromissos com a democracia combater a escalada golpista e o cerco criminoso ao Lula”.
Com essa declaração, o presidente do PT vai muito além da campanha desinformativa e da lógica simplista que o partido vem tecendo ao longo das últimas semanas. Entra no perigoso terreno de manipular a militância de seu partido e jogá-la contra as instituições que desempenham suas funções com independência e correção. É preciso muita atenção aos próximos passos do PT em sua estratégia de pressionar o Poder Judiciário e os órgãos fiscalizadores, até porque já está marcada uma manifestação em defesa de Lula para o próximo dia 17, em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda em São Paulo, quando o ex-presidente irá depor ao Ministério Público.
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