Ao observar o mapa econômico do Brasil, nota-se que há uma imensidão de território no lado oeste no qual predomina a gigantesca e maravilhosa floresta natural e, a leste, o país tem como vizinho o também imenso Oceano Atlântico. Este país, um dos maiores do mundo, concentrou seu sistema produtivo e sua base econômica inicialmente em extensa faixa do litoral atlântico, realidade compreensível considerando ser um território extremamente grande e cuja orografia torna demorada e cara a construção de uma malha de transportes robusta o necessário para sustentar a expansão e o progresso rumo ao interior. Apesar disso, nas últimas seis décadas, a expansão econômica e a base produtiva adentraram o centro do território brasileiro e seguiram à fronteira oeste. A maior parcela do Produto Interno Bruto (PIB), porém, ainda continua concentrada na larga faixa que margeia o litoral leste do país.
As capitais dos estados se concentram, em sua maior parte, na margem atlântica do território; tornaram-se cidades de grandes populações e atraíram expressiva parcela do produto nacional e do mercado consumidor. Dos 5.570 municípios brasileiros, há apenas 50 com população superior a 500 mil habitantes; destes, 17 têm população superior a 1 milhão. Esses 50 municípios concentram perto de um terço dos 214 milhões de habitantes do país. As capitais dos estados acabam contribuindo para a concentração de renda no mínimo por duas razões. Uma é que, com carga tributária levando 34% do PIB para os cofres públicos em valores arrecadados, o fluxo de dinheiro público para as capitais é proporcionalmente maior que para as demais cidades. A segunda razão é que nas capitais está concentrada a maior fatia da máquina estatal e, também, a maior parte relativa do quadro de funcionários públicos, fatos que fazem a fração do gasto público per capita nas capitais ser mais elevada que no resto do estado, inclusive porque os rendimentos médios dos integrantes da estrutura estatal são maiores que a média do país em funções equivalentes.
É um problema haver cidades grandes com sérios problemas de infraestrutura, poluição, deficiência no sistema de circulação, congestionamentos e perda de qualidade de vida em razão das restrições impostas pelos gargalos
As capitais e suas regiões metropolitanas se transformaram em grande mercado consumidor e, também por isso, o crescimento industrial local foi consequência natural e acabou aprofundando o efeito de promover o grande êxodo urbano ocorrido a partir dos anos 1970. Enquanto as capitais cresciam, muitas cidades do interior se esvaziavam, perdiam população e reduziam seu crescimento, entre outras razões pela expressiva incorporação de tecnologias pela agricultura. A automação de processos operacionais agrícolas que antes eram executados por trabalhadores gerou desemprego na zona rural, passou a demandar menos mão de obra e obrigou o êxodo de grandes contingentes populacionais, em grande parte rumo às cidades grandes, sobretudo as capitais.
A situação que produz tal realidade resulta do chamado “desemprego tecnológico”, provocado pela modernização da atividade e aumento da produtividade. Os movimentos migratórios e o esvaziamento de cidades acabam ocorrendo em grande escala, principalmente se as cidades não conseguirem expandir os setores industrial, comercial e de serviços de modo a compensar a perda de empregos no setor primário. Quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, propôs a discussão sobre a hipótese de extinguir os municípios com menos de 5 mil habitantes e integrá-los aos municípios vizinhos, constatou-se que 1,2 mil municípios (21,5% do total) têm população abaixo desse teto. Essa informação mostra que foi grande e expressivo o tamanho da mudança na estrutura das cidades, principalmente do ponto de vista populacional.
De fato, é um problema haver cidades grandes com sérios problemas de infraestrutura, poluição, deficiência no sistema de circulação, congestionamentos e perda de qualidade de vida em razão das restrições impostas pelos gargalos, enquanto milhares de cidades pequenas não têm os meios para reter suas populações, principalmente empregos e oportunidades econômicas para jovens em início de carreira. A evolução do agronegócio, sua profissionalização e a incorporação de tecnologias modernas transformaram a produção de alimentos no Brasil em um caso de sucesso e admiração internacional, a ponto de se dizer que, sem o Brasil, a insegurança alimentar no planeta seria grave. Porém, por mais que o agronegócio seja um sucesso reconhecido, o setor, sozinho, não tem a capacidade de desenvolver o interior do país e promover substancial melhoria das cidades, das oportunidades de trabalho e da qualidade de vida.
O atual momento complexo vivido pelo mundo e este ano eleitoral constituem oportunidade importante para debates e propostas sobre como levar o desenvolvimento econômico para o interior, mesmo porque, conforme um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) publicado em 2012 sob o título de A Era das Cidades, as grandes cidades atingiram tal ponto de ruptura e gargalos que, ao lado de sua posição de comandantes da criação da riqueza, elas estão se tornando um entrave ao progresso material e ao bem-estar de suas populações. A assunto é complexo, comporta outros aspectos além dos levantados acima e deve ser colocado sob os holofotes dos políticos, dos líderes empresariais e dos órgãos de classe, pois, sem esse tema, a ideia de um grande plano nacional de desenvolvimento padecerá de grave falha.