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editorial 1

Intolerância estudantil

Uma minoria de estudantes da USP tem se mostrado nada exemplar em suas formas de protesto, utilizando métodos radicais para defender posturas no mínimo controversas. Ocupação da Reitoria e prédios da universidade, depredação do patrimônio público, provocação de conflito com policiais militares. A situação vivenciada em São Paulo merece reflexão aprofundada até por não ser isolada. Meses atrás também vivenciamos em território paranaense atitudes confusas e exageradas promovidas por grupos de estudantes.

O primeiro ato do incidente da USP ocorreu quando, no dia 27 de outubro, policiais militares detiveram três estudantes que estavam consumindo maconha no estacionamento do edifício em que funciona os cursos de História e Geografia. No momento em que conduziam os universitários para o 91.º Distrito Policial, os policiais militares foram atacados por dezenas de estudantes a pedradas, sendo que três PMs foram feridos e seis viaturas danificadas. O segundo ato foi a ocupação do prédio da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

O terceiro ato ocorreu na noite de terça-feira. Após a realização de uma assembleia estudantil que aprovou o fim da ocupação do prédio da FFLCH, a minoria derrotada, de cerca de 100 estudantes, decidiu pela ocupação da Reitoria. Com rostos cobertos com camisas e munidos de paus, quebraram um portão do prédio da Reitoria da USP e invadiram a área da administração central.

Parte dos acadêmicos, alegando que sua luta é por "direitos civis" e pela "autonomia universitária", quer a revogação do convênio com a Polícia Militar, que atualmente faz a segurança do campus. Embora seja tradição que a segurança de universidades não seja feita pela PM, o aumento da incidência de crimes dentro do campus da USP fez com que o comitê gestor da universidade entendesse ser conveniente firmar convênio para o patrulhamento.

No período da ditadura militar, em função dos atos arbitrários realizados pelas polícias, era compreensível a aversão à entrada de PMs no campus. Porém, em tempos de democracia, é difícil de entender como o policiamento feito pela PM fere as liberdades civis e a autonomia universitária.

Há uma confusão conceitual na postura adotada por parte de estudantes da USP. Confundem-se os direitos fundamentais da comunidade universitária – que dizem respeito à liberdade de pensamento, de pesquisa e de divulgação e debate de ideias – com um território livre da atuação estatal. As atitudes estão mais para a irresponsabilidade que para a oposição no campo das ideias.

A falta de clareza na condução de reivindicações de universitários não se restringe à USP. Guardadas as devidas proporções, em fins de agosto e início de setembro, estudantes paranaenses seguiram roteiro parecido. A UEM viveu a ocupação da Reitoria e da rádio universitária, numa demonstração antidemocrática, na qual, como forma de pressionar as autoridades universitárias para que atendessem a uma pauta de reivindicações, parte dos estudantes ocupou espaços destinados ao convívio e disseminação de ideias de acadêmicos. No mesmo período, estudantes da UFPR ocuparam o prédio da Reitoria, em Curitiba, sem, entretanto, violar o patrimônio público.

Ocupações de prédios públicos e atos de restrições de direitos de outros cidadãos não são uma forma democrática de se discutir reivindicações. Podem até ter um efeito reverso do desejado, causando antipatia de grupos que poderiam apoiar os movimentos. Espera-se que os estudantes da USP ponderem com clareza sobre suas motivações e sobre os valores que estão em jogo – segurança e liberdade. E, dadas as manifestações de um passado recente, o mesmo vale para os acadêmicos paranaenses. Reflexão e debate democrático só podem conduzir ao progresso.

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