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Movimentação no Porto de Paranaguá.
Movimentação no Porto de Paranaguá.| Foto: ANPr

Já indo para o fim de 2020, o Brasil se vê diante de um desafio histórico, essencial para definir o futuro de seus 212 milhões de habitantes, e começar o primeiro ano da terceira década do século com disposição política para aproveitar cada um dos próximos dez anos e fechar a terceira década com renda por habitante pelo menos 40% maior que o valor atual. Embora com variações conforme a metodologia de cálculo e a taxa de câmbio adotada, estima-se que a renda por habitante ao fim deste ano, medida pela paridade de poder de compra do dólar, está em US$ 16,3 mil conforme levantamento da revista Conjuntura Econômica de janeiro de 2020. Em termos comparativos, a renda per capita brasileira equivale a um quinto da norte-americana, o que dá uma noção da distância de padrão médio de bem-estar social entre os dois países.

A realidade brasileira, com seus níveis de miséria e pobreza, justifica a tese de que é prioritário buscar crescimento sustentável ano a ano em porcentuais acima da taxa do aumento populacional. Se tivermos êxito, é possível sonhar com aumento real da renda por pessoa em torno de 40% até o fim da década, em 2030, e acreditar na superação total da miséria e redução substancial dos índices de pobreza. Em resumo, a meta primeira é: o PIB tem de crescer, inclusive para superar o alto desemprego que foi agravado pela pandemia do coronavírus e fez de 2020 um dos piores anos de toda a história econômica brasileira.

Nos últimos anos, o Brasil vem investindo em torno de 15% do PIB, o que é muito pouco, tanto em termos porcentuais quanto em valores absolutos

Assim, o desafio em termos de gestão da economia nacional é saber como obter crescimento econômico nesta terceira década, inclusive para reduzir o grave desemprego, pois somente o crescimento cria empregos. Embora existam várias medidas capazes de contribuir com a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), o crescimento econômico brasileiro passa por duas vias: investir e exportar. Quanto ao efeito expansionista, sobretudo na expansão e modernização da infraestrutura física, não há muita dúvida sobre a eficácia dos investimentos. Nos últimos anos, o Brasil vem investindo em torno de 15% do PIB, o que é muito pouco, tanto em termos porcentuais quanto em valores absolutos. O país necessita apressar os investimentos por eles serem essenciais para criar a base sobre a qual seja possível aumentar o PIB, e o esforço deve ser o de elevar para pelo menos 20% do PIB a taxa de investimento nos próximos dez anos, o que viabilizaria o crescimento do PIB de 4% ou 5% ao ano.

A outra via para crescer é aumentar expressivamente as exportações. No contexto do comércio exterior, o Brasil é inexpressivo. Tendo o oitavo PIB mundial e a sexta população, as exportações brasileiras significam apenas 1,2% do total mundial, equivalente à posição 24 no ranking global de exportação. Obter elevado crescimento do PIB e expressivo aumento das exportações são duas variáveis correlacionadas e uma alimenta a outra. Nesse aspecto, é importante a adoção de políticas que levem ao aumento do processamento interno de matérias-primas para que o país passe a exportar produtos acabados com maior valor agregado. Em outras palavras, em vez de exportar produtos primários, deve ser feito esforço de transformá-los na indústria nacional e exportar os produtos prontos para consumo, com maior valor agregado derivado da atividade industrial de transformação, o que implica a desejada geração de emprego e renda dentro do país.

Em economia, há uma expressão chamada “termos de trocas”, que é a relação física e monetária entre os produtos exportados e os produtos importados. Quando o Brasil começou a abrir sua economia para o exterior nos anos 1990, o preço de um computador pessoal portátil chegava a US$ 3,4 mil, enquanto a exportação de uma tonelada de soja era feita ao preço de US$ 200, ou seja, a relação de troca nessa operação era de 17 toneladas por um notebook. Quem examinasse a economia pelo lado material podia facilmente ser iludido pelo tamanho do volume físico da soja, da área de terras e da logística envolvidos na produção de 17 toneladas de soja. Esse conjunto de fatores e sua grandeza física pareciam imensamente maiores e mais relevantes do que um notebook, uma peça de 2 quilogramas e do tamanho de uma pizza.

Dizendo de outra forma, o termo de troca de soja por notebook era desfavorável ao Brasil, e isso explicava parte do atraso do sistema produtivo brasileiro. A causa era que a inteligência e a tecnologia envolvidas em um notebook eram maiores que a inteligência e a tecnologia envolvidas na lavoura de soja, e os trabalhadores da lavoura brasileira tinham salários menores que os trabalhadores na cadeia industrial do computador pessoal. Mesmo soando mais importante produzir alimentos do que computador, pois sem computador o mundo vive (e já viveu), mas sem alimentos a vida não se sustenta, o fato é que, em termos de valor agregado e de possibilidade de padrão de vida, os centros produtores de computadores e equipamentos com alta tecnologia são muito mais ricos que as economias agrícolas.

Além disso, a produção de um item não elimina a necessidade de produzir o outro. Adicionalmente, é importante entender que não se trata de abandonar a produção de matérias-primas agrícolas, mas sim de transformá-las e vendê-las para o mundo, em vez de exportá-las in natura. Um exemplo atual que ilustra bem a questão é o fato de a Alemanha ter se tornado exportador de café sem produzir um pé de café. Portanto, se o Brasil deseja sair de seu estado de atraso, é necessário que as lideranças políticas, os empresários e as entidades empresariais trabalhem para o crescimento do binômio investir e exportar, sem esquecer, é claro, de outras políticas necessárias para o desenvolvimento capaz de levar o país a um futuro melhor para sua população.

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