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Medicamentos tiveram reajuste autorizado pelo governo no fim de março e pesaram na inflação de abril.
Medicamentos tiveram reajuste autorizado pelo governo no fim de março e pesaram na inflação de abril.| Foto: Pillar Pedreira/Agência Senado

“A taxa de inflação continua em trajetória de desaceleração. Amanhã [quarta, dia 10] teremos uma surpresa, inclusive. Sairá o valor da inflação um pouquinho menor do que o que está na expectativa”, prometeu a ministra do Planejamento, Simone Tebet, na terça-feira. No entanto, ocorreu o contrário: o IPCA de abril, que acabou divulgado na sexta-feira, dia 12, ficou ligeiramente acima das estimativas do mercado financeiro, que esperavam uma inflação de 0,55%. O índice fechado do mês passado foi de 0,61% e, daquilo que afirmara a ministra, só a desaceleração se confirmou, já que o IPCA de março tinha sido de 0,71% e o de fevereiro, 0,84%; além disso, o acumulado de 12 meses também caiu, de 4,65% em março para 4,18% em abril.

Ao contrário de outros meses em que os combustíveis foram determinantes para a construção do índice, seja alto ou baixo, desta vez os medicamentos – que tiveram reajuste autorizado pelo governo – e os alimentos tiveram a maior participação no IPCA. “Saúde e cuidados pessoais” foi o grupo com a maior alta entre os nove medidos pelo IBGE, com 1,49%; o grupo “alimentação e bebidas” também subiu acima do índice médio, com 0,71%, acelerando significativamente na comparação com março, quando havia subido apenas 0,05%. O grupo “transportes”, que inclui os combustíveis, ainda teve alta de 0,56%, com participação de 0,12 ponto porcentual no índice, mas desta vez foi puxado por um salto nos preços das passagens aéreas, enquanto diesel, gás veicular e gasolina tiveram deflação.

Os entusiastas da redução imediata dos juros, liderados pelo presidente Lula, até poderão usar os números de abril em defesa de suas teses, mas não devem ser ouvidos

O alívio, no entanto, deve durar apenas mais alguns meses, infelizmente. O acumulado de 12 meses só caiu porque o 0,61% de abril de 2023 substituiu uma inflação de 1,06% em abril de 2022. Neste processo em que inflações mais antigas são descartadas, a chave será o terceiro trimestre deste ano. Primeiro, porque julho, agosto e setembro de 2022 tiveram deflações fortes, como resultado da menor cobrança de ICMS sobre itens como combustíveis e energia elétrica. Quanto esses meses saírem do acumulado, a tendência é de que ele volte a subir até que estoure de novo o limite superior de tolerância da meta de inflação para este ano, que é de 4,75% (a meta é de 3,25%). Segundo, porque há possibilidade real de aceleração da inflação com a entrada em vigor, em junho, da padronização do ICMS acertada entre os estados e o STF, com alíquotas únicas para gasolina e álcool – em algumas regiões do país, estima-se elevação de ate 10% nos combustíveis.

E por isso os entusiastas da redução imediata dos juros, liderados pelo presidente Lula, até poderão usar os números de abril em defesa de suas teses, mas não devem ser ouvidos. O Banco Central – e qualquer um que leve economia a sério – não trabalha com imediatismos, mas com perspectivas mais longas. E as previsões de inflação para este ano, recolhidas semanalmente no Boletim Focus, ainda colocam o IPCA fechado do ano na casa dos 6%. É certo que neste momento há fatores benéficos, como uma recente queda do dólar e do preço do petróleo no mercado internacional. No entanto, é preciso observar como essas pressões desinflacionárias resistirão às novas alterações tributárias, à saída dos meses de deflação da conta do IPCA acumulado, e da resiliência da inflação de serviços, que continua acima da média.

O Banco Central, cuja função principal é a defesa do valor da moeda, tem feito seu trabalho. Agora, é preciso saber se Executivo e Legislativo farão sua parte. A tramitação do arcabouço fiscal no Congresso será decisiva para sabermos se o país terá uma regra fiscal “sólida e crível”, capaz de “ancorar expectativas” de inflação e permitir o início de um ciclo de redução sustentável da Selic. Parlamentares prometem endurecer um texto que, hoje, implanta na prática um “piso de gastos”, com aumento real da despesa independentemente do que aconteça à economia, e consagra a impunidade ao poupar governantes que não cumpram os objetivos propostos. Do cumprimento dessa promessa depende, em boa parte, o rumo que a política monetária tomará nos próximos meses.

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