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Editorial

O IPCA desacelera e permite um otimismo cauteloso

Reajuste dos medicamentos ajudou a puxar para cima o IPCA de maio, segundo o IBGE. (Foto: Pillar Pedreira/Agência Senado)

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Depois de três meses acima de 1%, incluindo o preocupante 1,62% de abril, a inflação desacelerou com mais força em maio, segundo os dados do IBGE divulgados nesta quinta-feira, dia 9. O IPCA do mês passado foi de 0,47%, puxando ligeiramente para baixo o acumulado dos últimos 12 meses, que agora é de 11,73% – já são três trimestres inteiros com o IPCA acumulado na casa dos dois dígitos. O índice de maio também é o menor desde abril de 2021, quando a inflação foi de 0,31% e o choque inflacionário começava a se intensificar.

Ao contrário de muitos dos meses anteriores, quando combustíveis, energia elétrica e alimentos foram os chamados “vilões” da inflação, desta vez os itens cujos aumentos influenciaram o IPCA de maio foram os medicamentos, que tiveram reajuste autorizado pelo governo em abril; e as passagens aéreas, consequência tanto de aumentos no querosene de aviação quanto da maior demanda, em linha com a recuperação do setor de serviços, que já havia sido detectada pelo IBGE na divulgação dos números do PIB do primeiro trimestre.

O momento pede um certo otimismo cauteloso. Os últimos acontecimentos têm desafiado qualquer previsão de tendência e qualquer solavanco pode fazer a inflação acelerar novamente

Por outro lado, a gasolina teve desaceleração (alta de 0,92% em maio contra 2,48% em abril) e o etanol registrou deflação de 0,43%, depois de ter subido 8,44% em abril. O grupo “alimentos e bebidas”, uma das nove principais divisões usadas pelo IBGE no cálculo da inflação, subiu 0,48%, com vários produtos registrando quedas fortes nos preços. E o grupo “habitação” foi o único a ter deflação, com -1,7%, graças especialmente à energia elétrica, cujos preços caíram 7,95%. Maio foi o primeiro mês em que a bandeira tarifária verde vigorou integralmente, já que a mudança ocorrera no meio de abril – até então, valia a bandeira extraordinária de escassez hídrica, cuja sobretaxa encareceu a energia por oito meses. A redução neste item é especialmente bem-vinda porque se trata do tipo de custo que acaba repassado ao consumidor final em vários outros preços de produtos e serviços.

Outro indicador que teve ligeira melhora foi o da chamada “difusão” – a porcentagem de todos os produtos e serviços medidos pelo IBGE que registraram aumento de preços. Em abril, ela havia sido de 78%, e caiu para 72% em maio. No caso dos produtos alimentícios, a difusão recuou ainda mais, de 79% para 65%. Mesmo assim, ainda são números bastante altos em comparação com outros momentos recentes da economia nacional – em meados de 2019, por exemplo, o índice de difusão girou em torno de 50% antes de começar a subir; ele só voltaria a cair já durante a pandemia, quando a economia foi severamente desorganizada.

O IPCA de 0,47% em maio, contra números tão piores nos dois meses anteriores, permite concluir que já deixamos o pior para trás? O momento pede um certo otimismo cauteloso. As estimativas do mercado financeiro, colhidas no mais recente Boletim Focus, são de um IPCA de 9% em 2022 – ainda bastante alto, mas com queda no acumulado até o fim do ano. No entanto, os últimos acontecimentos têm desafiado qualquer previsão de tendência. A agressão russa contra a Ucrânia parece distante de terminar, e a China continua impondo lockdowns que afetam cadeias produtivas em todo o mundo. Várias autoridades monetárias mundo afora – incluindo o Copom – descreveram choques inflacionários como “temporários” em algum momento, mas acabaram forçados a reconhecer, mais cedo ou mais tarde, que eles tinham vindo para ficar. No caso brasileiro, o período eleitoral pode trazer mais ou menos instabilidade, dependendo do cenário que estiver se desenhando.

Na próxima semana, o Copom se reúne para definir a nova taxa básica de juros. Após a reunião anterior, o comunicado antecipou para junho “um ajuste de menor magnitude” que o de maio, quando a Selic subiu um ponto porcentual, para 12,75% ao ano. Se o Copom enxergar uma janela para reduzir o ritmo do aperto monetário, e se tanto o mundo quanto o Brasil forem poupados de novos solavancos, será possível acreditar na possibilidade de o país conseguir trazer tanto o desemprego quanto a inflação de volta para um dígito, ainda que acima dos patamares que consideraríamos aceitáveis para ambos os indicadores.

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