Nesta terça-feira, o Irã lançou um ataque com mais de 100 mísseis direcionados a Israel. A ação iraniana marca a segunda vez neste ano em que o regime islâmico ataca Israel diretamente, em vez de fazê-lo por meio dos agentes financiados pelos aiatolás, como os terroristas do Hamas e do Hezbollah, e as milícias houthis do Iêmen. Em abril, os iranianos usaram drones e mísseis facilmente interceptáveis pela defesa israelense; se desta vez houve, de fato, o emprego de mísseis balísticos, como afirmou o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, o Irã teria elevado a agressão a um outro nível, já que se trata de armas cuja trajetória torna mais difícil a interceptação. Até a noite de terça-feira (horário do Brasil), havia a confirmação de um morto e alguns feridos: as defesas israelenses funcionaram bem, com a ajuda dos aliados ocidentais; além disso, como um ataque já era esperado, a população estava em alerta para buscar abrigo quando avisada.
A Guarda Revolucionária iraniana assumiu que o lançamento de mísseis é uma resposta às ações israelenses das últimas semanas. Após os longos e cansativos meses de ocupação em Gaza, Israel partiu para uma estratégia de buscar os líderes terroristas, e tem tido enorme sucesso. Desde julho, quando o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto em um ataque cirúrgico israelense em solo iraniano, Israel já eliminou mais de uma dezena de outros chefes importantes de ambos os grupos terroristas – o principal deles foi Hassan Nasrallah, líder máximo do Hezbollah, morto em Beirute, capital do Líbano, na última sexta-feira. Se o Irã apenas “tomou as dores” dos seus proxies, ou se a tática israelense de “decapitação” foi tão eficaz que Teerã se viu na necessidade de assumir diretamente as operações de combate a Israel, é difícil dizer. Também incertas são as chances de uma escalada no conflito; até o momento da publicação deste editorial não houve nenhuma resposta militar da parte de Israel. Apesar da promessa de “consequências” feita pelo porta-voz das Forças de Defesa de Israel, há o precedente de abril, quando as armas iranianas também fizeram um estrago mínimo e Tel Aviv decidiu por uma retaliação bastante limitada.
O Brasil de Lula, mesmo com zero poder de influenciar qualquer desfecho no Oriente Médio, já escolheu seu lado: o dos agressores injustos
A agressão iraniana é a oportunidade de recordarmos um fato que muitos, no Brasil, se recusam a aceitar: ainda que Israel possa ter cometido ou estar cometendo crimes de guerra em sua ocupação de Gaza e nos recentes ataques ao Líbano – e, havendo indícios, é necessário que tais crimes sejam investigados e punidos –, o país luta por sua sobrevivência contra ao menos três agentes que declaradamente buscam exterminar Israel e os judeus: o Hamas, o Hezbollah e o próprio Irã. A entrada do exército israelense em Gaza só ocorreu devido ao 7 de outubro de 2023, quando o terrorismo do Hamas provocou o maior morticínio de judeus em um único dia desde o Holocausto. O direito à autodefesa está mais que consagrado no Direito Internacional, mas há quem confunda a necessária proporcionalidade na resposta israelense com uma obrigação de passividade, já que o poderio militar de Israel é evidentemente superior ao dos terroristas.
Em meio ao barril de pólvora do Oriente Médio, o Brasil de Lula, mesmo com zero poder de influenciar qualquer desfecho na região, já escolheu seu lado. Horas depois do ataque iraniano, o Itamaraty publicou uma nota condenando... a incursão terrestre de Israel no Líbano. Já sobre os mísseis lançados pelo Irã, nem uma palavra oficial do governo até as 19 horas desta terça-feira. A diplomacia brasileira já havia protagonizado um papelão global quando, durante a Assembleia Geral da ONU, os representantes do Brasil deixaram o plenário antes do discurso do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, em 27 de setembro – já a fala do presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, foi prestigiada pelos brasileiros, bem como as intervenções de outros ditadores e autocratas ou seus enviados, como os chanceleres venezuelano e russo. Aliás, se levarmos em conta a nova leva de bobagens ditas por Lula em Nova York sobre a guerra na Ucrânia, fica ainda mais patente a opção do petista pelo agressor injusto, e não pela nação que se defende dele.
Durante a Assembleia Geral da ONU, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, descreveu desta forma as ambições lulistas: “Talvez alguém queira um prêmio Nobel para sua biografia política, para uma trégua congelada, em vez de paz real”, afirmou, sem citar nomes, embora a referência fosse suficientemente óbvia para qualquer um minimamente familiarizado com as falas de Lula sobre a invasão russa e o empenho brasileiro em prol de um “plano de paz” chinês que, na prática, consiste na capitulação ucraniana. Mas não se trata apenas de uma megalomania à qual os brasileiros já se acostumaram; as escolhas erradas de Lula na política externa são conscientes, deliberadas, no sentido de alinhar o Brasil a camaradas ideológicos, mesmo que eles representem o que há de pior no mundo hoje.
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