Sete anos e cinco meses depois de invadir o Iraque, os Estados Unidos retiraram, terça-feira, as últimas forças militares de ocupação, encerrando um dos períodos mais sangrentos da história daquele país. No rastro dessa tragédia moderna, deixaram para trás 100 mil civis mortos e outros 5 mil militares da força de coalizão, ao custo gigantesco de cerca de US$ 750 bilhões. Os EUA, no entanto, saíram do território iraquiano com o grito de vitória entalado na garganta e serão obrigados a conviver, por muito tempo, com a incerteza de qual será o verdadeiro legado dessa guerra.
O futuro do Iraque pós-invasão passa a ser uma grande incógnita para o mundo. Nenhum analista internacional arrisca a dizer, no momento, que as tropas norte-americanas deixam um país num claro caminho para restabelecer a segurança, promover a reconciliação e alcançar a paz. Quando o ditador deposto Saddam Hussein foi executado em dezembro de 2006, dava a impressão de que esse caminho estava pavimentado. Contudo, não foi isso que ocorreu. Imperou o terrorismo e milhares de civis e soldados continuaram sendo mortos.
Hoje, apesar de a violência não ter voltado aos níveis de anos anteriores, as tropas oficiais iraquianas, que assumiram o controle do país, enfrentam ainda situações muito preocupantes. Somente na última semana, ataques terroristas coordenados contra a polícia mataram ao menos 56 homens. É por isso que cerca de 50 mil soldados norte-americanos ficarão no país, até 2011, para treinar e apoiar as tropas iraquianas.
Mesmo com os investimentos dos EUA de U$S 22 bilhões para reconstituir e modernizar as forças militares iraquianas, o governo ainda busca a autossuficiência. O Exército está em melhor estado. Por isso acabou assumindo tarefas que caberiam normalmente à polícia.
Nos últimos meses, todas as operações militares norte-americanas foram aprovadas e realizadas em conjunto com os iraquianos. Mas a inteligência do país ainda depende muito das informações cedidas pelos EUA. O general Babaker Zebari, comandante das Forças Armadas, resumiu a situação: para o país se normalizar completamente, as tropas de ocupação deveriam permanecer até 2020, pelo menos.
Em outubro de 2005, os iraquianos aprovaram uma Constituição em referendo nacional e, em dezembro, elegeram o governo e o Parlamento, no primeiro governo constitucional em quase meio século. No entanto, a insatisfação sunita com a dominação xiita em governos sucessivos é um motivo-chave por trás da insurgência que espalha a violência sectária no país, até o momento.
As eleições realizadas em 7 de março ainda estão inconclusas. A coalizão predominantemente xiita do primeiro-ministro Nouri al Maliki terminou em segundo lugar, atrás do bloco do ex-premiê Iyad Allawi, um xiita secular que foi fortemente apoiado pelos sunitas. O bloco governista pediu, então, a recontagem das cédulas de Bagdá alegando fraude, mas a recontagem terminou sem mudança dos resultados. Esse resultado aumentou temores de uma escalada na violência.
Além da violência e da predominância da maioria xiita, o Iraque terá de enfrentar a tarefa de reconstruir o país, recuperar a sua economia e promover o desenvolvimento. Com uma população de quase 30 milhões de pessoas, o país tem um dos PIBs mais baixos do mundo, US$ 97 bilhões; renda per capita anual de apenas US$ 3.198; a taxa de desemprego atinge a cifra: 15,3%; a população abaixo da linha da pobreza chega 23%; e a expectativa de vida é de apenas 59 anos. É um trabalho realmente de gigante reconstituir o país. Talvez leve até duas décadas para isso. Mais que um desafio, será quase um milagre colocar o Iraque do século 21 nos eixos.
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